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NOTA: 2.5

Considerando a grande fã de Sally Rooney que sou, fiquei decepcionada com esse personagem complexo...

<i> Nunca vi a chuva </i> era um livro que prometia pra mim, eu botei fé que eu ia amar esse livro. E nossa senhora não sei o que aconteceu. Quero começar dizendo que eu defendo fortemente a leitura desse livro, acho que precisa ser lido sim e é muito importante, mas tem ressalvas e algumas coisas que precisam ser abordadas com cautela.

O romance é em formato de diário, escrito por Lucas, o protagonista "insuportávelmente auto-centrado", que após conhecer Rafael, passa a questionar suas escolhas de vida. O livro promete, de cara, diversas representatividades (

inclusive PcD, uma surpresa positiva

). No entanto, tudo acabou não concretizando seu potencial de impacto por causa de algumas escolhas feitas pelo autor.

De início, acredito que entender Lucas é essencial. Todos que leram com quem eu conversei o acharam insuportável e auto-centrado, etc. E tudo bem, é para sua mudança ser causada depois. Porém, sua evolução é muito brusca, rasa e embasada em pontos clichês, de forma que algumas explicações passam batidas só porque são "clichês". Além disso, uma questão muito forte é a forma como o autor escolheu retratar o personagem falando de seus sentimentos - o formato diário e algumas atitudes do personagem - acabaram por banalizar, ao meu ver, assuntos como suicídio e depressão, que ainda são mal-representados na mídia E na literatura e exigem um grau mais profundo de abordagem.

Para saber mais a fundo alguns pontos que me incomodaram sobre a escrita, além da sensação de superficialidade:

Não comprei as lutas de Lucas por causa da superficialidade de sua linguagem, não senti uma evolução linear em seu diário e caráter, achei os personagens caricatos demais, num extremo em que apesar de eu me importar com a história e achar uma história importante, achei que estava sendo exemplificada nos personagens errados. Por que o cara que é egoísta e precisa mudar precisa estar no extremo do extremo da futilidade? Por que ele precisa ser podre de rico? Almejou por uma vibe a princesa e a plebéia e acabou, sem querer, reforçando estereótipos e clichês, mesmo que não fosse a intenção do autor (como o "vilão rico" vs "anjo pobre" ou a "PcD sem frustrações, feliz da vida" vs o "rico com transtornos mentais", o que surpreende num livro sobre saúde mental). Infelizmente muitas escolhas feitas ao longo do livro e abordagens, por mais que não intencionalmente baseadas em estereótipos, acabaram levando a esse resultado, de forma que fiquei chateada em me perguntar se tal atitude desinformada do protagonista era capacitismo ou carinho pelo irmão. Ainda, por causa dessa sensação de não conhecer o protagonista direito, algumas frases que ele fala ao "mudar" e "ter uma luz em sua vida', parecem metáforas jogadas só para se ter uma frase bonita.

Como eu disse, é uma história cheia de representatividade, que deve ser lida. Muitos que conheço gostaram e não se incomodaram com alguns pontos que mencionei, além se verem representados ali em diversos aspectos. Só queria que um pouco mais de carinho tivesse sido tomado ao fazer certos personagens terem certas atitudes e ao escolher certas abordagens literárias, principalmente ao trazer uma história como essa. Mas o livro é interessante, merece destaque, gera debate e deve ser discutido, justamente para caminharmos em direção a uma melhora e uma nova representação. Acho que se o livro fosse mais longo ou em outro formato (não diário), isso se resolveria? Talvez. A pérola, o potencial, estava todo ali, fico feliz de quem consegue alcançá-lo e aproveitar.

Recomendo a leitura, desde que com cautela e atenção, e também pretendo ler o outro livro do autor, principalmente porque a amiga com quem fiz a LC deste livro, amou.

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