A review by pjv1013
No Jardim do Ogre by Leïla Slimani

5.0

A nossa sexualidade continua a ser um dos mais fascinantes temas e debates. Um livro que faça da sexualidade um dos seus temas é um livro que provoca claro algum “interesse”.

No Jardim do Ogre, publicado em Portugal pela Alfaguara, é a primeiro livro de Leïla Slimani. Foi igualmente o primeiro livro que li da autora, leitura essa instigada pela Tânia Ganho tradutora da obra) e pela Ana Bárbara Pedrosa.

A verdade é que foi uma daquele leituras sem parar em que devorei as páginas em quase histeria. E claro que o muito sexo e o ritmo algo galopante da escrita me ajudou a essa leitura.

Mas se o muito sexo presente e a escrita ritmada mostram, na realidade, a compulsão, a violência e a dor com que Adèle, - personagem central - , vive a sua sexualidade, mas também a sua vida emocional e familiar.

É nessa violência e dor, nessa relação desregulada e não emancipatória com a sua sexualidade que esta personagem se perde num conjunto de momentos auto-destrutivos. Momentos esses em que todos os campos da sua vida pessoal, familiar e profissional são atingidos num processo em que a eminente queda de todo esse mundo é cada vez mais próxima.

A verdade é que Leila Slimani partindo e uma escrita simples e directa, mas igualmente crua, nos dá um retrato de uma dessas personagens desenraizadas e perdidas que representam tanto o modo como andamos a não olhar adequadamente para nós, para os nossos sentimentos e para a nossa sexualidade.

Aqui fica um pedaço do início

“ já não consegue pensar em mais nada. De pé, na cozinha, muda o peso do corpo de um pé para o outro. Fuma um cigarro. No duche, tem vontade de se arranhar, de rasgar o corpo em dois. Bate com a testa na parede. Quer que a agarrem, que lhe partam o crânio contra o vidro. Assim que fecha os olhos, ouve os barulhos, os suspiros, os gritos, os golpes. Um homem nu que arqueja, uma mulher que se vem. Gostaria de ser um mero objecto no meio de uma horda, ser devorada, chupada, engolida de um trago. Gostaria que lhe beliscassem as mamas, que lhe mordessem a barriga. Quer ser uma boneca no jardim de um ogre.”