A review by ozielbispo
Carta a um homem religioso by Simone Weil

5.0

Simone Weil(1909-1943), mística e filósofa judia cristã francesa, meses antes de morrer de tuberculose com apenas 34 anos, escreveu uma carta com várias perguntas e considerações, 35 no total, endereçadas a P. Jean Couturier, um religioso Dominicano que residia em Paris, onde apresenta várias dúvidas em relação a igreja e ao cristianismo diz ela : " Vou enumerar alguns pensamentos que me habitam há anos (ou pelo menos alguns) [...] peço uma resposta firme sobre a compatibilidade ou incompatibilidade de cada uma dessas opiniões com a membresia na Igreja".


Não são dúvidas em relação à sua fé, mas uma busca para extrair a verdade como forma de consolidar as suas crenças.
Simone Weil indaga sobre a idolatria na igreja, comenta que mesmo antes de Cristo já havia conteúdos do cristianismo entre os caldeus, gregos e egípcios.
Observa também que há muitas semelhanças entre mitos egípcios e gregos com textos das escrituras e o paralelismo entre Prometeu e Cristo, entre Atena e Hèstia e o Espírito santo. Ela relata também a semelhança entre as runas de Odín com a crucificação : "Eu sei que eu pendurei
Em uma árvore ventosa,
Pendurado lá por nove noites inteiras;
Com a lança eu fui ferido,
E eu foi oferecido
Para Odin, eu mesmo,
Na árvore que ninguém
Jamais pode conhecer
Como sua raiz funciona.
Ninguém me fez feliz
Com pão ou chifre,
E lá embaixo eu olhei;
Eu peguei as runas,
Gritando, eu tomei-as,
E imediatamente caí de costas.”

Critica os teólogos dizendo que Cristo mandou pregar as boas novas, não criar um sistema religioso.

Há muitas outras considerações de Simone Weil ao longo do livro. Ela era muito culta, pena que morreu tão nova. Esta obra foi publicada depois da sua morte, graças ao esforço do seu grande amigo Albert Camus.
Pelo que consta esta carta nunca foi respondida, mas debatida tem sido até hoje.
"A carta ainda hoje tem um valor excepcional. Não apenas como um testemunho do rigor intelectual e moral de Simone e seu inabalável compromisso com a verdade, mas também como uma expressão da tensão que confronta a autenticidade de uma fé vivida radicalmente com a esclerose do dogma."
Uma leitura muito deliciosa de um livro que recomendo a todos.