A review by celestecorrea
Manhattan Transfer by John Dos Passos

4.0

(editado)

«Manhattan Transfer» ( 1925) de John dos Passos (1896-1970)

Há quem considere «Manhattan Transfer» o «Ulisses» americano. Através da junção de acontecimentos históricos, notícias (nas epígrafes dos capítulos), e episódios das vidas de mais de cem personagens, o autor faz da cidade a protagonista de um livro aparentemente confuso, que emprega recursos da linguagem cinematográfica.

Nas suas páginas, com tamanha galeria de personagens que aparecem, desaparecem, reaparecem, é fácil perdermo-nos e, ao perdermo-nos, sentirmos o fervilhar de uma grande metrópole com um ancoradouro através do qual pessoas de todo o lado desembarcam olhando a Estátua da Liberdade.
Todos os caminhos vão dar a Nova Iorque, e «o que é terrível no facto de Nova Iorque nos começar a cheirar a mofo é que não há mais nada. É o topo do mundo. Resta-nos andar às voltas nesta gaiola de esquilo.»

Nova Iorque é uma moeda de duas faces, fracasso e sucesso: «Se fosse suficientemente romântico, acho que já me tinha suicidado há muito tempo só para pôr as pessoas a falar de mim,», ou ainda «E não te esqueças de uma coisa: ter sucesso em Nova Iorque é ter sucesso a valer.»

Percam-se nesta cidade cujas ruas alguém resolveu verter em números. Percam-se nesse retrato da vida e do espírito dos primórdios do século xx. Percam-se neste ambiente onde tudo acontece. Percam-se neste parágrafo:«Tem uma frase fabulosa sobre um imperador romano qualquer que apanhou Roma feita de tijolo e a deixou feita de mármore. Diz que ele apanhou Nova Iorque feita de tijolo e a vai deixar feita de aço, aço e vidro. Um sonho e tanto.»

Sintam-me mais um no meio da multidão!