A review by graciosareis
O Colibri by Sandro Veronesi

5.0

 
O Colibri, de Sandro Veronesi é um livro maravilhoso, surpreendente e superlativamente cativante. Trata-se de uma saga familiar marcada pelo amor e amizade, pela perda e dor, pela fragilidade humana, pelo sonho, esperança e realização. 
O título, “O colibri” remete para a alcunha atribuída ao protagonista na infância pela mãe, devido à sua pequena estatura, mas ao longo da leitura, percebemos que há outro sentido, mais metafórico, associado à capacidade da ave pairar no ar e que no protagonista se revela ao longo da sua vida numa luta constante pela superação da perda e da dor. 
 É Luísa, numa carta que escreve ao protagonista, que nos confirma o, já intuído, duplo sentido de “O colibri”: 
“E compreendi de repente (…) que tu és realmente um colibri. Pois claro. Foi uma iluminação: tu és realmente um colibri. Mas não pelas razões pelas quais te foi dada essa alcunha: tu és um colibri porque, como o colibri, pões toda a tua energia em te manteres parado. (…) tal como o colibri é capaz de voar para trás. Por isso é tão agradável estar ao teu lado.” (p. 261)
  
 Marco Carrera, “oculista e especialista em oftalmologista”, ao viver uma série de dramas vai aprender a pairar, a parar, a voltar atrás para se manter à tona da vida. Muitas vezes pensa em desistir, mas resiste e luta à sua maneira. 
Estamos perante um romance fragmentado que flui ao sabor das recordações e das memórias, mas também de prolepses que predizem o futuro. Sem ordem cronológica vamos percorrendo a sua infância e juventude, conhecendo a família, a paternidade, os amigos, a grande paixão da sua vida, os desencontros, as perdas familiares irreparáveis, os sucessos, isto é, a vida. 
 Para dar sentido à fragmentação da narrativa, Veronesi entremeou os seus capítulos com cartas, muitas cartas, conversas telefónicas, emails, documentos, citações, o que lhe atribui um carácter polifónico e é ao leitor que cabe a reconstituição da trama que acompanha Marco Carrera, bem como descortinar a complexidade das relações humanas. 
 
Termino como iniciei, reafirmando que se trata de um livro sublime que revela uma escrita sensível, elegante, emotiva e um ritmo delicado e fascinante, tal como o colibri, ou beija-flor, que voa natural, livre e airosamente. Recomendo