A review by rbonjour
A Boneca de Kokoschka by Afonso Cruz
4.0
Somos constituídos por uma manta de retalhos de todas as pessoas que nos formam, de todas as pessoas que fazem ou fizeram parte da nossa vida. Em "A Boneca de Kokoschka", Afonso Cruz (des)constrói essa manta em que se entrelaçam as vidas de várias personagens, mostrando-nos como o acaso nem sempre é tão aleatório como parece, mas que o destino tão-pouco está sempre tão definitivamente escrito como parece.
O livro peca talvez um pouco pela organização: ao dedicar cada parte a um grupo de personagens, acaba por nos deixar a sensação de ter abandonado as suas personagens, que depois retoma mais tarde, num novo contexto -- como Kokoschka abandonou a sua boneca quando deixou de precisar dela, dando-lhe nesse acto uma segunda vida. No entanto, o retorno às personagens anteriores é um não-retorno, sentimos que já não são as mesmas por quem nos apaixonamos: queriamos saber mais sobre Isaac, Tsilia e Bonifaz Vogel e a estranha família que criaram; por outro lado, não nos convence Miro Korda, não o acreditamos merecedor deste entrelaçado.
No final, não deixa de ser uma bela leitura. Afonso Cruz é um mestre das palavras, transformando-as em metáforas que poderemos levar connosco, incorporando-as na nossa própria manta (não fossem os livros, também eles, uma espécie de boneca de Kokoschka).
O livro peca talvez um pouco pela organização: ao dedicar cada parte a um grupo de personagens, acaba por nos deixar a sensação de ter abandonado as suas personagens, que depois retoma mais tarde, num novo contexto -- como Kokoschka abandonou a sua boneca quando deixou de precisar dela, dando-lhe nesse acto uma segunda vida. No entanto, o retorno às personagens anteriores é um não-retorno, sentimos que já não são as mesmas por quem nos apaixonamos: queriamos saber mais sobre Isaac, Tsilia e Bonifaz Vogel e a estranha família que criaram; por outro lado, não nos convence Miro Korda, não o acreditamos merecedor deste entrelaçado.
No final, não deixa de ser uma bela leitura. Afonso Cruz é um mestre das palavras, transformando-as em metáforas que poderemos levar connosco, incorporando-as na nossa própria manta (não fossem os livros, também eles, uma espécie de boneca de Kokoschka).