A review by katya_m
Salomé by Oscar Wilde, Pascal Aquien

A opção de Strauss de traduzir ipsis verbis o texto de Wilde, Salomé, para encenar a magnífica ópera com mesmo nome foi o motivo primeiro que me levou a pegar neste livro.
A imagem da princesa da Judeia é todo um mundo de estudo em história da arte a que já estava habituada, mas as cenas da ópera encenada por Weigl perseguem-me desde que primeiro a vi. E o poder das palavras que profere Salomé é de tal ordem que tinha mesmo de olhar o texto.

Nada ainda está por dizer sobre a escolha de Wilde (e posteriormente Strauss): a sua versão da história é blasfema - importe isso para leigos não -; a corte do rei Herodes é a epítome da consumação dos valores religiosos; o rei é um pai incestuoso; a rainha uma prostituta e a filha uma assassina necrófila que comete a heresia de profanar o corpo de um profeta (e diga-se também que o próprio São João Batista não sai muito bem no retrato)...

Mas há qualquer coisa em Salomé de profundamente atraente, magnético que nos obriga a fechar os olhos à baixeza deste mundo em que habita. Sensual, poderosa, Salomé partilha da péssima fama de outras mulheres fortes apresentadas em narrativas bíblicas - na sua decadência, como na escrita de Wilde, reside o seu poder.

Prefiro a maturidade da tentativa de Flaubert sobre este tema, em Herodíade, mas sem Wilde não existiria para mim imagem de Salomé.