Scan barcode
A review by katya_m
The Story of Benjamin Franklin by Enid LaMonte Meadowcroft
Os livrinhos de Enid LaMonte Meadowcroft são puro encanto. Não como referências de literatura juvenil para os dias de hoje, mas como mementos de uma época mais simples, mais cândida talvez. A realidade é que a autora transforma as vidas de grandes personalidades em verdadeiras sagas dickensianas, fazendo delas crianças predestinadas e corajosas que ultrapassam inúmeras dificuldades para seguir o que o coração lhes diz, sem julgamentos. A história de Benjamin Franklin (como antes a de Louisa May Alcott) segue também esses moldes e traça o retrato de um jovem com uma curiosidade infinita...
- Que é que tu trazes a encher-te dessa maneira o bolso das calças?
- Trago o livro novo - esclareceu Ben - comprado com o dinheiro que me deu o tio Benjamim; mais um aparelho que eu inventei, para me voltar as páginas dos livros, quando estou a ler na oficina com as mãos besuntadas; mais o pedaço dum dente de elefante, que o Josiah me trouxe da Índia. A que distância fica a Índia, minha mãe?
- Não sei - respondeu esta. - O que eu queria era que estivesses quieto um instantinho, para eu poder marcar o sítio das costuras.
...um pequeno Ben seguro do destino que o espera, e que não se deixa desmotivar pelas dificuldades mundanas que normalmente se interpõem no caminho dos grandes:
- Levanta-te- ordenou Sarah desta vez, empurrando-o com o pé - e deixa-me passar! Que te importam as formigas?
- Gosto de saber como elas vivem - redarguiu Ben, pondo-se de pé, - e se falam umas com as outras.
Estendeu o braço, pegou no pedaço de bolo que estava na prateleira, e deu-lhe uma grande dentada.
- Verás como, um dia, o hei-de descobrir- continuou com a boca cheia. - Não há nada no mundo que eu não venha a descobrir!
Forçado a abandonar a escola por ser um mandrião sonhador, Benjamim Franklin começou por se juntar ao pai na fábrica de velas e sabão da família, para daí a pouco tempo assinar contrato como aprendiz do seu irmão mais velho. Rapidamente, porém, farto das tareias a que está sujeito, Ben decide fugir de casa:
As pessoas que viam passar aquele rapaz mal vestido, que parecia não ter onde cair morto, não podiam sequer suspeitar que ele viria a ser o homem mais conhecido e amado em toda a cidade e de Filadélfia, e uma das primeiras figuras da América.
Estabelece-se como tipógrafo em Filadélfia e é então que a vida começa a dar claros sinais de que este jovem curioso e rebelde está destinado a algo de grandioso:
Conhecido como o mais hábil impressor da colónia de Pensilvânia, levava uma vida de trabalho. Publicou ele próprio um jornal, que saía uma vez por semana. Imprimia livros, panfletos e dinheiro em papel, para a colónia. E tinha aberto uma loja de papelaria, na casa contigua à oficina tipográfica.
Era a mulher quem atendia os fregueses nessa loja; e tinha sempre que fazer, pois ia lá imensa gente comprar tinta, papel, penas de pato, mapas, livros, sabão, alguns medicamentos, e outras coisas que lá se vendiam.
Rapidamente, Benjamim Franklin se torna o responsável pela modernização dos correios, o mentor por detrás da primeira corporação de bombeiros da cidade e o instigador das várias melhorias que a cidade de Filadélfia sofre nos anos seguintes:
Um dia, ao ouvir uns amigos queixarem-se de não poderem comprar os livros que gostariam de ler, sugeriu a ideia de organizar com eles uma biblioteca, juntando numa sala os livros de todos, para que pudessem ser lidos por uns e por outros.
- Se, depois - continuou ele,- cada qual contribuísse com uma pequena quota, para a biblioteca, ficaríamos com dinheiro suficiente para mandar vir mais livros de Inglaterra, e toda a gente poderia ir ali ler e estudar.
A ideia de Ben foi acolhida com entusiasmo, e assim se fundou a primeira biblioteca desse género, na América.
Daí às experiências com eletricidade e ao envolvimento na guerra pela independência dos Estados Unidos vai um pulinho. Apesar do tempo e das distâncias, Benjamim Franklin é um verdadeiro homem da renascença, um homem a quem não faltam a sabedoria e curiosidade que fazem os grandes heróis. E
Enid LaMonte traça o seu retrato de homem trabalhador e chistoso na perfeição. Depois, os pozinhos de perlimpimpim dos anos 40 fazem resto... De qualquer forma, esta preciosidade é uma autêntica viagem na máquina do tempo, e uma janela para um momento histórico muito particular (recorde-se que os Estados Unidos se envolvem na II Guerra Mundial precisamente no ano em que este livro é publicado, em 1941) o que torna a ênfase dada a esta biografia - muito mais preocupada com o papel de Benjamin Franklin enquanto responsável pela criação dos Estados Unidos como nação independente do que com o seu papel enquanto homem de ciência -, uma escolha pouco inocente.
Ainda assim, é difícil não apreciar uma obra que versa sobre uma personalidade tão espirituosa como Benjamin Franklin, mesmo que a autora faça dele um homem puro e sem defeitos. Até porque esta forma de "censura positiva" não ficou refém dos anos quarenta e tem um ar definitivamente familiar...

Ilustração por Edward A. Wilson
«Um segredo pode ser guardado por três, se dois tiverem morrido.»
Benjamim Franklin
- Que é que tu trazes a encher-te dessa maneira o bolso das calças?
- Trago o livro novo - esclareceu Ben - comprado com o dinheiro que me deu o tio Benjamim; mais um aparelho que eu inventei, para me voltar as páginas dos livros, quando estou a ler na oficina com as mãos besuntadas; mais o pedaço dum dente de elefante, que o Josiah me trouxe da Índia. A que distância fica a Índia, minha mãe?
- Não sei - respondeu esta. - O que eu queria era que estivesses quieto um instantinho, para eu poder marcar o sítio das costuras.
...um pequeno Ben seguro do destino que o espera, e que não se deixa desmotivar pelas dificuldades mundanas que normalmente se interpõem no caminho dos grandes:
- Levanta-te- ordenou Sarah desta vez, empurrando-o com o pé - e deixa-me passar! Que te importam as formigas?
- Gosto de saber como elas vivem - redarguiu Ben, pondo-se de pé, - e se falam umas com as outras.
Estendeu o braço, pegou no pedaço de bolo que estava na prateleira, e deu-lhe uma grande dentada.
- Verás como, um dia, o hei-de descobrir- continuou com a boca cheia. - Não há nada no mundo que eu não venha a descobrir!
Forçado a abandonar a escola por ser um mandrião sonhador, Benjamim Franklin começou por se juntar ao pai na fábrica de velas e sabão da família, para daí a pouco tempo assinar contrato como aprendiz do seu irmão mais velho. Rapidamente, porém, farto das tareias a que está sujeito, Ben decide fugir de casa:
As pessoas que viam passar aquele rapaz mal vestido, que parecia não ter onde cair morto, não podiam sequer suspeitar que ele viria a ser o homem mais conhecido e amado em toda a cidade e de Filadélfia, e uma das primeiras figuras da América.
Estabelece-se como tipógrafo em Filadélfia e é então que a vida começa a dar claros sinais de que este jovem curioso e rebelde está destinado a algo de grandioso:
Conhecido como o mais hábil impressor da colónia de Pensilvânia, levava uma vida de trabalho. Publicou ele próprio um jornal, que saía uma vez por semana. Imprimia livros, panfletos e dinheiro em papel, para a colónia. E tinha aberto uma loja de papelaria, na casa contigua à oficina tipográfica.
Era a mulher quem atendia os fregueses nessa loja; e tinha sempre que fazer, pois ia lá imensa gente comprar tinta, papel, penas de pato, mapas, livros, sabão, alguns medicamentos, e outras coisas que lá se vendiam.
Rapidamente, Benjamim Franklin se torna o responsável pela modernização dos correios, o mentor por detrás da primeira corporação de bombeiros da cidade e o instigador das várias melhorias que a cidade de Filadélfia sofre nos anos seguintes:
Um dia, ao ouvir uns amigos queixarem-se de não poderem comprar os livros que gostariam de ler, sugeriu a ideia de organizar com eles uma biblioteca, juntando numa sala os livros de todos, para que pudessem ser lidos por uns e por outros.
- Se, depois - continuou ele,- cada qual contribuísse com uma pequena quota, para a biblioteca, ficaríamos com dinheiro suficiente para mandar vir mais livros de Inglaterra, e toda a gente poderia ir ali ler e estudar.
A ideia de Ben foi acolhida com entusiasmo, e assim se fundou a primeira biblioteca desse género, na América.
Daí às experiências com eletricidade e ao envolvimento na guerra pela independência dos Estados Unidos vai um pulinho. Apesar do tempo e das distâncias, Benjamim Franklin é um verdadeiro homem da renascença, um homem a quem não faltam a sabedoria e curiosidade que fazem os grandes heróis. E
Enid LaMonte traça o seu retrato de homem trabalhador e chistoso na perfeição. Depois, os pozinhos de perlimpimpim dos anos 40 fazem resto... De qualquer forma, esta preciosidade é uma autêntica viagem na máquina do tempo, e uma janela para um momento histórico muito particular (recorde-se que os Estados Unidos se envolvem na II Guerra Mundial precisamente no ano em que este livro é publicado, em 1941) o que torna a ênfase dada a esta biografia - muito mais preocupada com o papel de Benjamin Franklin enquanto responsável pela criação dos Estados Unidos como nação independente do que com o seu papel enquanto homem de ciência -, uma escolha pouco inocente.
Ainda assim, é difícil não apreciar uma obra que versa sobre uma personalidade tão espirituosa como Benjamin Franklin, mesmo que a autora faça dele um homem puro e sem defeitos. Até porque esta forma de "censura positiva" não ficou refém dos anos quarenta e tem um ar definitivamente familiar...

Ilustração por Edward A. Wilson
«Um segredo pode ser guardado por três, se dois tiverem morrido.»
Benjamim Franklin