A review by kauafirs
Pequena Abelha by Chris Cleave

5.0

Achei o livro muito interessante como um ponto de partida para quem se interessa (e para criar interesse) pelo questão dos refugiados e, até certo ponto, do racismo - embora não seja o foco do livro. Li algumas resenhas daqueles que não gostaram do livro, dizendo que as personagens não eram complexas e isso dificultava a aproximação do leitor a elas; porém, a minha experiência foi outra: me simpatizei muito por Abelhinha e por Sarah e consegui sentir da maneira mais extrema seus sofrimentos e suas dores. A escrita do autor, embora não seja tão elaborada e complexa, é bem simples e facilita a compreensão da causa dos refugiados por parte dos leigos no assunto - e desempenha essa função muito bem, como um livro de imersão no assunto. Desse modo, a história, além de cativante, flui muito bem, de modo que li o livro em três dias apenas.
Alguns personagens me despertaram total desprezo, no entanto, como Lawrence, que é extremamente egoísta e xenofóbico - admito que fiquei com muita raiva dele pela deportação de Abelhinha, já que ele foi a causa disso (ele sabia que ela não podia contatar a polícia e, mesmo assim, a pediu isso), e a maioria das personagens que conheceram Abelhinha - exceto as outras refugiadas, Sarah, Charlie e Andrew (após terminar o livro), que eram totalmente xenofóbicas. Entretanto, creio que o autor tenha as criado para representar o comportamento dado aos refugiados por parte da maioria da população dos países que os recebem, fato que ainda é muito atual e que conseguiu representar muito bem.
Além disso, abriu uma questão muito importante nesse livro em relação ao tema: as explorações feitas por muitos países desenvolvidos nas nações subdesenvolvidas, de maneira que afeta direta e negativamente na vida e desenvolvimento da população local - em alguns casos, como no do livro, parte dessa população é dizimada para que essas explorações tenham sucesso -, e, em contrapartida, as mesmas nações desenvolvidas se negam a acolher os refugiados desses mesmos países subdesenvolvidos que eles exploraram e os tratam com ódio e como se fossem animais. Em muitos momentos da obra, quando essa questão é exposta, admito que surgia uma raiva enorme em relação a esses países de primeiro mundo e uma empatia enorme em relação aos países pobres. Essa questão, infelizmente, ainda é muito presente - cada vez mais, até - nos dias de hoje (veja as ações imperialistas norte-americanas no México e o tratamento do governo Trump dado aos refugiados mexicanos) e deveria ser muito mais discutida.
É muito triste que um livro escrito há dez anos atrás se trate de uma situação tão atual quanto essa. Enfim, amei o livro demais e , apesar de não ter gostado do final dado a Abelhinha, reconheço que é o mesmo final de muitos que se encontram na mesma situação que ela.

P.S.: O Charlie (Batman cof cof) é um fofo e todas as suas aparições eram cômicas e incríveis! As reflexões de Abelhinha e seus momentos com sua irmã Nkiruka também eram demais!