A review by purplcrosswords
Gaveta de Papéis by José Luís Peixoto

4.0

Não me sinto confortável a escrever críticas de poesia, excepto se forem poemas da Sylvia Plath e puder dizer "lindo! espantoso! fantástico!" enquanto bato palmas e aceno um pouco a cabeça. E as razões pelas quais gosto dos poemas dela são porque satisfazem aquilo que eu acredito que a poesia promete: os poemas devem-nos torcer por dentro como laranjas e deixar espremer novas consciências, novos fascínios, traduzir-nos todos em novas maravilhas palavreadas.

Mas não gosto de dizer: este poema é mau, este poema é bom. Porque todos os poemas são a tradução de alguém num certo momento, melhor ou pior conseguida, mas acho que não deve ser trabalho de ninguém classificar essa tradução. O trabalho de um leitor de poesia deve ser ler e rever-se (ou não), ler e sentir-se desafiado(ou não), ler e sentir-se quente por dentro (ou não). Mas claro, isso é só a minha opinião. Quando se lê prosa, há, claro, outros objectivos a ter em conta. Mas para mim, a poesia é o maior espaço de liberdade criativa, e essa liberdade não deve ser sujeita a escrutínios muito detalhados.

Feita esta reflexão inicial, as minhas quatro estrelas a este livro são muito voláteis. O José Luís Peixoto é um escritor bastante sólido em prosa. Li já grande parte da sua obra, e fico sempre surpreendida com o que ele consegue fazer. Antes deste livro, tinha também lido o seu outro volume de poesia A Casa, a Escuridão, que na altura (já há uns bons anos) me deixou com boa impressão, mas especialmente por estar associado ao seu livro de prosa Uma Casa na Escuridão, que é provavelmente o meu livro favorito da sua autoria.

Acho que é natural que os poemas dele saibam a pouco depois de ler universos inteiros de boa literatura em forma de romance sob o nome JLP. Talvez porque falta aos poemas um pouco da magia dos espaços, das pessoas. São pequenos pedaços de histórias que não agarram de igual modo por serem apenas janelas e não portas.

Mas apesar de tudo, quatro estrelas. Foi um prazer sentar-me junto ao meu aquecedor com música de fundo a desfolhar página a página a Gaveta de Papéis.