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A review by ritaralha
O vento conhece o meu nome by Isabel Allende
4.0
A empatia é algo misterioso, não obedece a nenhuma regra conhecida, dá-se espontaneamente ou não se dá de todo, é impossível forçá-la.
A história principal segue Samuel Adler, que aos seis anos é forçado a fugir da sua cidade natal após a Kristallnacht (a Noite dos Cristais) em 1938. É enviado para a Inglaterra através do programa Kindertransport, destinado a salvar crianças judias dos horrores do regime nazi, e Anita Díaz, uma menina salvadorenha que, junto com a sua mãe, tenta escapar da violência e da pobreza em El Salvador, cruzando ilegalmente a fronteira dos EUA. Durante esta tentativa, Anita é separada da sua mãe, reflectindo a dura realidade enfrentada por muitos migrantes.
O romance explora a experiência dos refugiados e desenha paralelos entre as crianças judias que escaparam da Europa durante a Segunda Guerra Mundial e as crianças latino-americanas que fogem da violência e da pobreza na actualidade.
A jornada de Samuel e Anita simboliza a dor e a resiliência inerentes à migração forçada. É através destes contextos específicos – Europa Nazi e a actualidade na América Central – que Isabel Allende faz uma crítica social incisiva, traça paralelos entre os dois períodos históricos e alerta para a repetição de padrões de sofrimento que necessitam de uma resposta humanitária mais musculada.
A separação familiar é um assunto central e aborda tanto a perda física quanto emocional. A relação entre pais e filhos, e o impacto devastador da separação forçada, são retratados com uma sensibilidade que evoca empatia e compreensão.
Apesar das adversidades, as personagens principais demonstram uma notável capacidade de recuperação.
A esperança e a busca por um futuro melhor são forças motrizes que sustentam Samuel e Anita nas suas jornadas, sublinhando a importância da perseverança.
A história de Samuel e Anita une-se em 2021 durante a pandemia de Covid-19.
Isabel Allende tem uma prosa envolvente e emotiva, capta a complexidade das experiências humanas, cria empatia e permite-nos uma conexão com as personagens. As descrições, tão vívidas, levam-nos para cada um dos ambientes narrados. Há uma pitadinha de realismo mágico, mas nada que nos desvie do foco da história.
Ficou por contar um pouco mais do Massacre de El Mozote, em 11 de Dezembro de 1981.