A review by andromaches
The King Must Die by Mary Renault

3.0

Um dos maiores problema desse livro é ele ser em primeira pessoa, e ficar páginas na cabeça do Teseu é de enlouquecer qualquer um. E pior ainda, de um Teseu sem personalidade. Nesse livro ele é mais um peão dos deuses, ele faz o que mandam ele fazer e pensa o que eles querem que ele pense, justiça poética? Talvez, mas não é muito interessante de ler. Vou confessar que vou precisar revisitar esse livro futuramente porque eu pulei as partes das aventuras de Teseu e fui logo pra quando ele foi pra Creta, só assim pra eu ler esse livro tão rápido.

E a parte de Creta é bem escrita, as descrições da sociedade foram as minhas favoritas, e como a autora realmente incorporou todos os elementos de touro que foram encontradas nos sites de Creta. A Corte do Touro, os bull-dancers, muito interessante. Mas nesse livro Asterius e o Minotauro são pessoas diferentes, não entendi direito o motivo dessa decisão, mas como a autora tentou fazer um livro que seja mais realista do que mitologia, eu vou ter que entrar nessa onda também nessa review.

Como minha conta é privada eu nem preciso dizer que eu não sou historiadora nem nada do tipo né, eu só leio muito e falo muito.

Quando se trata de mitos gregos, é impossível encontrar aquela que pode ser considerada a "versão original", pois algumas foram perdidas com o tempo junto com civilizações que hoje sabemos muito pouco, algumas nós só sabemos que existiram porque foram encontradas suas cerâmicas, porém pouco ou nenhum registro que hoje conseguimos traduzir. Essa foi uma realidade que eu me deparei quando eu conheci a história de Ariadne, principalmente quando resolvi pesquisar sobre Creta, mais especificamente sobre Civilização Minoica (nome que veio do próprio rei Minos).

Sabemos que: Touros eram muito prevalentes e que aquela poderia ter sido uma sociedade matriarcal. E, é claro, o mito de Teseu e o Minotauro.

Se tirarmos toda questão do homem touro e maldição dos deuses fica a história da invasão de uma civilização, e sua queda. Com a morte do Minotauro, o símbolo do labirinto e a perda de sua princesa, sobra a história de como os micênicos invadiram os minoicos. É tudo um grande telefone sem fio mitológico.

E onde Ariadne entra nisso tudo? A possível existência de Ariadne é antiga, ela é deusa muito antes de Dionísio lhe dar esse status, e ela pode ter existido sem um consorte. É o mesmo caso de Persephone, há registros de ela ter existido muito antes de Hades e, também, sem consorte. Alguns teorizam que ela (Ariadne) é a Deusa das Serpentes, que são várias estatuetas encontradas em Cnossos que representam uma suposta deusa da Civilização Minoica, e ela faz parte de muitas das obras encontradas onde mulheres estão no centro das cenas, porém não se sabe se era algo apenas religioso ou também politico.

Então veio a ascensão do patriarcado, e muitas deusas sofreram alterações. Agora Ariadne não era uma deusa, mas uma princesa que abandonou seu povo pelo ateniense Teseu, e essa história é uma das que tem mais versões diversas, e muitas não funcionam entre si, e esse foi um dos meus problemas com o livro Ariadne.

E Ariadne, meu Deus como eu amei algumas partes essa Ariadne

"Who is that girl?" I asked, and pointed, to be clear, because of the noise.
He looked shocked past speech. Then he hissed in my ear, "Be quiet. That is Ariadne the Holy One, the Goddess-on-Earth."
I looked. She had seen me pointing, and her back was stiff. I saw she was not one to be lightly affronted. I touched my brow and was silent.

.
While she spoke Cretan she had been all goddess; but on the Greek she stumbled once, and I heard a human voice. The priestesses had turned to look, as if the ritual were broken. [...] "She is Ariadne the Most Holy, the Mistress of the Labyrinth. You'll only see her in her shrine. Otherwise no one sees her, any more than they do the King."



Mas infelizmente o resto, principalmente por ser o ponto de vista do Teseu, é bem misógino. Também a autora também tirou qualquer participação dela no mito... Ela não ajudou Teseu no labirinto e também tem um posição passiva depois que ela se apaixona por Teseu. Eu perdoo mais esse livro porque ele foi escrito em 1950, agora Ariadne da Jennifer Saint...

A família de Ariadne é uma as mais interessantes da mitologia grega, e eu fico impressionada como nenhum autor traçou essa linha, principalmente em retellings feministas. Ariadne é neta de Helios, o próprio Sol, e Zeus, mas também é sobrinha de Circe e prima de Medea, duas das maiores bruxas da mitologia grega.

Ela e Medea tem muitos paralelos, inclusive, ambas são princesas de seus respectivos reinos que se apaixonam por um herói, traem seu povo por eles, ajudando-os com seus respectivos problemas, apenas para serem abandonadas. E nenhuma delas é punida pelos deuses em suas vinganças (a da Ariadne é mais um headcanon do que mitologia mesmo, mas detalhes), alguma justiça finalmente.

Eu li algumas reviews e umas pessoas não gostaram da parte de Naxos. Nessa versão, completamente nova, existe um Rei e uma Rainha em Naxos, a ilha que deveria ser de Dionísio. Quando Teseu e Ariadne chegam lá eles são recebidos pelos dois em seu palácio, e até mesmo ficam em um dos maiores quartos, porém em uma cena digna das bacantes, elas matam o rei, e Ariadne está lá inclusa, e Teseu fica enojado com aquilo e a abandona. Honestamente? Gostei. Porém como o livro é pelo ponto de vista dele, a parte interessante acaba por aí, e ele acaba sendo a vitima. Teseu ia abandonar ela de qualquer jeito, sinceramente, isso apenas deu um motivo, e eu SEI que essa Ariadne colocaria uma maldição pra ele esquecer de trocar as velas, confio na kinga.

É isso, essa é minha última review gigante desse ano, eu ME RECUSO, preciso dar uma pausa longa.