A review by sammys2
Um Lugar Só Nosso by Maurene Goo

4.0

Já tinha um tempo que eu ouvia falar sobre os livros da Maurene Goo. Os leitores gringos soltavam tantos elogios à suas obras que, aliado ao fato de elas terem toques da cultura asiática, sendo a autora descendente de coreanos, logo me fez querer lê-los também, como a dorameira que sou. Assim, não pensei duas vezes e agarrei a oportunidade de ler Um Lugar Só Nosso e, assim, embarquei nessa leitura que prometia tanto.

Primeiro de tudo, já gostei de cara da escrita fluída e envolvente da autora que não só soube dividir bem os pontos de vistas entre Lucky e Jack como, mais ainda, apresentar paralelos tão interessantes entre eles, desde suas personalidades até suas respectivas vidas, que mais parecem estar em uma linha tênue no quesito sonhos, família, inseguranças e desejos.

Começando pela Lucky, a quem amei conhecer e a qual logo me apeguei. Por já conhecer e inclusive acompanhar grupos de k-pop há uns três anos, logo reconheci o background da jovem estrela que se apresenta visivelmente dividida entre o que vamos ver, ao longo do livro, como a clara diferença que há entre realizar um sonho e viver esse sonho de fato. Parecem a mesma coisa, mas Lucky é só um exemplo de como se pode estar realizando um sonho e, ao mesmo tempo, não vivê-lo realmente - ou pelo menos não como se esperava, gostaria.

Jack, por outro lado, é a personificação de alguém que sabe o que gosta de fazer, mas não sabe como fazer. Soa confuso, mas o rapaz se convenceu tanto da pressão passada pelos pais para que ele se tornasse bem sucedido em algo estável, que ele acabou não só fugindo desses desejos deles como, mais ainda, deixando de enxergar a si próprio e o que ele ainda tinha como opção, mas que insistia em usar apenas como um escape e, logo, se iludir com algo mais seguro e fácil por não acreditar em si próprio. Assim como com a Lucky, consegui me apegar à ele, ao passo que também queria puxar a orelha dele em alguns momentos ou oferecer um ombro amigo em outros.

É muito única a forma como a autora consegue unir esses dois personagens que, ao mesmo tempo diferentes, também tem tantas semelhanças e que, não só isso, juntos, conseguem confrontar um ao outro de formas sutis e, sem perceber, trazer toda uma reflexão sobre ter sonhos e correr atrás deles, sobre as alterações que esses sonhos podem sofrer, podendo até mudarem por completo ao longo do tempo e que não há nada de errado nisso, e sobre a importância de ser sincero, não só com quem nos importamos, como também com nós mesmos, seja com o que queremos ou não, sentimos ou deixamos de sentir, e afins.

E o melhor de tudo? A autora consegue fazer todas essas abordagens e reflexões em uma narrativa que se passa em grande parte em 24h e sem, contudo, perder o tom jovem e enérgico dos protagonistas. Assim, ao mesmo tempo que nos pegamos pensativos com uma ou outra fala ou gesto dos personagens, também nos envolvemos na aventura que eles vivem em um dia que, antes, parecera ser só mais um dia como qualquer outro em suas vidas. Nos pegamos envolvidos por esses personagens de forma tão intensa, conhecendo-os pouco a pouco em um espaço de tempo que parece tão curto e ao mesmo tempo tão longo, e nós rimos, sorrimos, suspiramos, às vezes nos emocionando ou ficando irritados com Lucky e Jack, como num YA como qualquer outro, mas com o bônus, de assim, como vários livros do gênero, nos fazer questionar e ver certas coisas por perspectivas além do padrão, de forma que não precisa conhecer o k-pop para ser envolvido pela leitura.

Mas nem tudo é perfeito. Justamente pela maior parte da história se passar em 24h e focar tanto em Lucky e Jack, a leitura se torna monótona em alguns momentos. Em meio a isso, também senti vontade de conhecer um pouco mais das famílias deles, além da abordagem um tanto superficial que temos pelas rápidas menções de Lucky e Jack sobre eles. Além disso, ao mesmo tempo em que o final me prendeu e não me deixou pausar a leitura até concluí-la, esse mesmo desfecho ficou abaixo da média que o livro estava tendo comigo até então. Entre um capítulo decisivo e outro, a autora resolveu inserir um salto de tempo de um ano na vida dos personagens que, mesmo com algumas explicações, ainda me fez sentir uma lacuna no final que eu gostaria que tivesse sido mais abordada, ainda que eu entenda, de certa forma, o porquê de ela ter feito isso. Ainda assim, foi uma quebra de tempo que me fez sentir levemente desconectada dos protagonistas e do romance, de forma que o feeling intenso de capítulos atrás se tornou morno no final.

Apesar disso, o livro está longe de ser ruim. No fim, continuo a recomendar essa leitura com muita veemência. Um Lugar Só Nosso, mais do que uma capa incrível, é também um YA gostoso e envolvente que aborda vários aspectos da cultura asiática misturada com a americana de forma leve e natural por entre os cenários destaques de Hong Kong, e que mesmo tendo k-pop na trama, vai conseguir cativar e agradar mesmo a quem não está imerso nesse universo, uma vez que sonhos, altos e baixos da vida, insegurança e desejos são coisas inerentes a muitas carreiras, cenários e culturas mais.