A review by kilppes
A Ilha das Árvores Desaparecidas by Elif Shafak

4.0

a ilha das árvores perdidas (como recebi na cópia) de elif shafak talvez tenha sido o livro que mais me emocionou em 2022, graças a profunda sensibilidade da autora. apesar de alguns momentos eu sentir que ela estava a poucos segundos de entrar em uma zona quase que panfletária das suas ideias - motivo pelo qual estou dando quatro e não cinco estrelas - a maneira que a autora usa a fauna e, especialmente, a flora local do chipre e a carga poética e mitológica dessas espécies traz uma potência única para a história. genuinamente transcultural, a figueira que narra a história aponta a presença de sua espécie em diversas religiões e culturas, mostrando também seu impacto na tradição através das histórias que foram passadas. a história, inclusive, que toma um papel central para o livro, pois é a memória e as marcas dela nos troncos das árvores e nas gerações de pessoas que são o foco narrativo.
se eu tivesse uma crítica, seria o caráter altamente moralista que a figueira frequentemente assumia em alguns dos seus comentários quanto a natureza e a sua dificuldade de entender os humanos. assim como ela afirma ao ouvir kostas que "solidão é um sentimento humano", ao ouvir ele preocupado com a árvore se sentir sozinha sem ninguém para conversar com ela, a moralidade também é humana. talvez porque o sentimento que a autora quer enfatizar na história seja o da justiça e de lutar pelo que é certo, explicitado em tanto ada, defne e kostas, pessoas engajadas com a construção de um mundo melhor, mas a presunção de que um ponto de vista narrativo de uma figueira assumiria, de qualquer maneira, uma posição baseada em um julgamento me parece altamente humana. o encerramento do livro pode até dar uma explicação para a árvore ser assim (
Spoilerjá que então narra que o espírito de defne ocupou a figueira igual as antigas histórias da mitologia grega
), mas achei que teria sido mais interessante se a narrativa da figueira tivesse sido construída como algo menos linear, mais experimental, que absorve todas as marcas - boas ou ruins - e experimenta de maneira insistente o presente, passado e futuro ao mesmo tempo.
queria dizer que me emocionei muito com a amizade de defne e kostas com yusuf e yiorgos e os próprios yusuf e yiorgos (tive que abaixar o livro e levei cinco minutos inteiros pra me acalmar e conseguir continuar), definitivamente meu arco preferido do livro, e tive que deixar marcado seu final (
Spoilerse pudessem ter permanecido perdidos juntos
). uma das minhas histórias preferidas de 2022!