A review by acrisalves
Shriek: An Afterword by Jeff VanderMeer

4.0

https://osrascunhos.com/2008/12/26/shriek-jeff-vandermeer/

«The fungus in this place has eaten into the typewriter ribbon. I’m typing in sticky green ink now, each word a mossy spackle against the keys. If I could turn off the light, no doubt my sentences would read themselves back to me in a phosphorescent fury-the indignation of creatures uncovered from beneath a rock.»

Ambergris, a cidade criada por Jeff Vandermeer, tinha-me já sido introduzida por City of Saints and Madmen: uma cidade assombrada pelos gray caps e habitada tanto por pessoas, como por fungos. Na verdade, a cidade comporta-se como se fosse propriedade passageira das pessoas: explosões de cogumelos, luminescências esverdeadas, nuvens de esporos e superfícies irregulares cobertas por mantas coloridas. Tais expressões de vida fazem lembrar os horrores escondidos na história da cidade, que ninguém pretende recordar.

Neste livro retorna-se a Ambergris, desta vez pela voz dos irmãos Shriek: Janice e Duncan. Ainda que a escrita principal pertença a Janice, vai sendo intercalada (entre parêntesis) pela de Duncan. A infância de ambos terá sido marcada pela morte do pai, um historiador que morreu de felicidade. Duncan, que cedo revelou vontade de explorar as florestas sombrias, os túneis escuros e outros lugares inóspitos; segue algumas das pegadas do progenitor, dedicando-se a tentar descobrir a verdade sobre os estranhos acontecimentos que assombraram a cidade de Ambergris. Janice, por sua vez, dedica-se às artes, recebendo alguma notoriedade por impulsionar um novo movimento artístico através do lançamento de Martin Lake.

A vida de Duncan será marcada por duas obsessões: a verdade sobre os graycaps e Mary Sabon; e ainda que tenha obtido algum sucesso pelos seus livros de história, cai no ridículo e no esquecimento quando revela factos que devem permanecer escondidos. Contaminado pelos fungos que habitam os subterrâneos que percorre, Duncan é, ainda, expulso do local onde lecciona por manter um relacionamento amoroso com uma das alunas – Mary. Também Janice cai no anonimato, recordando constante e melancolicamente os seus tempos áureos.

Uma história pausada e sofrida, Shriek possui um tom bastante diferente de City of Saints & Madmen, e talvez por isso não me tenha cativado à primeira. Tive que parar a leitura e só decorridos vários meses, retorná-la – desta vez engolindo as várias páginas de um trago. Por vezes, a leitura de um livro depende da nossa disposição, outras, só à segunda se entranha uma história. Ainda que algumas passagens sejam demasiado extensas, outras, como a da Ópera, ficar-me-ão na memória. Desta poderão ler um excerto no site do livro.

Nesse mesmo site, encontra-se informação sobre uma banda sonora e um filme, realizados em torno de Shriek.

Em português, de Jeff Vandermeer, foi publicado um pequeno livro contendo três histórias, pela editora Livros de Areia, A transformação de Martin Lake & Outras histórias, uma das quais (a que terá dado o título ao livro), terá vencido o World Fantasy Award.