A review by andrepithon
A Sociedade dos Sonhadores Involuntários by José Eduardo Agualusa

5.0

Eu não serei objetivo nas minhas opiniões. As vezes não há espaço para isso.

Eu sonho. Eu gosto de sonhar. Até mais do que deveria. Eu gosto de escrever sobre sonhos. Tanto os puramente imaginários, quanto aqueles que se fantasiam como possíveis, e, principalmente, o tipo mais perigoso, que caminham na dolorosa fronteira do maldito quase. Odeio quases. A sociedade dos sonhadores involuntários é uma ode ao sonho, à coragem, e à mudança.

Eu podia falar de alguns personagens não tão bem construídos, de algumas caracterizações que não me agradam, de algumas partes cortáveis e desnecessárias, mas eu não estou no estado apropriado para o meu cinismo habitual. A obra conta a história de Daniel, capaz de sonhar com pessoas reais, mas a história não é sobre isso. É sobre o sonho de um povo, e a coragem de lutar pelo que é certo, de não ter medo de se posicionar contra um governo tirânico e corrupto. Mas também é sobre amor, e sobre o sonho da felicidade, o sonho de se permitir acreditar em algo que deveria ser impossível, por mais difícil e assustador que seja. Permitir-se crer, sentir, sonhar. Sonhos que mudam o mundo, sonhos que mudam o seu mundo.

A camada bem fina de fantástico não demora para rachar, superficial, deixando-nos com principalmente comentário político, mas retorna no final em um desfecho retumbante e catártico. Faz bons anos que eu não choro lendo algo, e faz ainda mais tempo que eu queria realmente me deixar afetar, me deixar quebrar. Aconteceu. Talvez eu deva culpar meu estado emocional atual, mas eu vou só celebrar Agualusa.

A prosa é simples, é quase crua, leitura fácil, mas possui momentos de pequena beleza magnífica, de frases perfeitamente construídas, de citações cruelmente verdadeiras, e me levou até a anotar trechos, outro evento raro que a muito eu não me permitia fazer. Agualusa constrói cenas fáceis, belas oníricas paisagens litorâneas (que é algo que me afeta profundamente, e eu não consigo deixar de escrever sobre), momentos de emoção genuína, e nos dá urro desesperado por mudança, aplicado ao cenário Angolano, país do autor, mas que ecoa igualmente verdadeiro no nosso Brasil.

A mensagem é uma de coragem.
De coragem de acreditar nos sonhos, de coragem de lutar por aquilo que vale a pena, de comemorar a loucura. Permitir que seu próprio sonho sangre, e não seja só seu.

Talvez eu mude de opinião em algumas semanas.
Talvez em alguns anos.
Talvez nunca.
Sonho para que nunca.