A review by memita
Contos de São Petersburgo by Nikolai Gogol

4.0

4,5*

Embora pouco tenha a ver com Tchekohv, fiquei com a mesma sensação de conforto ao ler Gógol, como se estivesse em casa. Foi um prazer ler este livro e tenho pena que só contenha seis contos. Todos eles têm uma coisa em comum, a Avenida Niévski, e não só. Apesar de serem bastante diferentes uns dos outros em termos de temáticas, todos são pontuados pelo non sense puro, pelo absurdo, pelo cómico e pela sátira. São factores que criam histórias malucas, mas que, para quem gosta, tudo se encaixa e faz sentido. O autor acaba sempre por dar uma alfinetada muito pertinente, às vezes quase sem darmos por isso. O meu conto preferido é provavelmente O Retrato, pois tem uma pitada de horror: um olhar humano pintado num quadro assombra a vida dos protagonistas. Mas todos eles se pontuam também pelo realismo mágico, e o mais evidente é O Nariz, em que um nariz se desprende do seu dono e passa a ter vida própria. Sim, literalmente. O conto de que gostei menos no imediato foi o Diário de um Louco, que tal como o nome indica, temos um homem a contar-nos a loucura que vai dentro da cabeça dele. Porém, tem o final mais cómico dos seis. O mais curioso talvez seja o A Caleche, que é curtíssimo, uma vez que o seu final não tem sentido nenhum, que até parece mentira. Tendo em conta todas as histórias, penso que todos os contos se equilibram muito bem e acabam por se complementar. E não posso colocar nenhum de parte, com toda a certeza. São daquele tipo de histórias que quando acabamos de ler parecem muito banais, mas quando deixamos o tempo passar (no meu caso só passou um dia e já me estou a sentir nostálgica) elas começam a crescer em nós e a criar ninho, até que nunca mais nos esquecemos delas.