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A review by stephmostav
An Iranian Metamorphosis by Mana Neyestani
3.0
Uma releitura razoável da obra do Kafka, não apenas de A metamorfose, mas também O processo. Neyestani se aproveita da figura emblemática da barata e dos labirintos burocráticos kafkianos para ilustrar sua própria história como preso político e refugiado. Tudo causado por um mal entendido, cujas repercussões geram os melhores momentos reflexivos da história. Apesar de, por acidente, ofender um grupo social minoritário no Irã, o autor em nenhum momento culpa os cidadãos pertencentes a esse grupo por se sentirem humilhados com a representação de uma barata usando uma expressão idiomática deles. As acusações, ou ainda as aflições de Neyestani voltam-se todas para o governo que se aproveita desse caos para silenciar ainda mais todos os opositores, usando a prisão do cartunista como estratégia política.
Assim como para Gregor Samsa, a história do autor se passa num cenário de pesadelo, no qual ele se vê limitado às condições que os outros tem a oferecer a ele, sempre sem explicação e nunca com sequer um vislumbre de resolução. Neyestani representa bem o desespero kafkiano com o prazo indefinido de um julgamento do qual ele não é culpado, assim como sua transferência de cela para cela, de país para país, sem mudança alguma para sua tormenta.
O estilo de desenho é nitidamente obra de um cartunista e os governantes, juízes e advogados são caricatos até mesmo no comportamento. Neyestani também reduz a si mesmo no quadrinho a uma vítima das circunstâncias, sempre na condição de sujeito passivo que é submetido à espera sem fim. Sua resolução com a barata resgatada repetidas vezes durante todo o enredo é bastante previsível, além de meio ridícula. Ridículo também é o humor fora de lugar na maior parte dos momentos, como as tentativas de metaficção que destoam muito do restante da narrativa no qual esse tipo de experimentação não tem lugar. Também senti falta de uma contextualização maior, ao final pouco sabemos sobre as particularidades daquele momento histórico; poderiam ser inseridas nesses momentos de humor mais leve, em vez da utilização de referências genéricas e ocidentalizadas.
Mas o saldo final é positivo e Uma metamorfose iraniana é um quadrinho satisfatório.
Assim como para Gregor Samsa, a história do autor se passa num cenário de pesadelo, no qual ele se vê limitado às condições que os outros tem a oferecer a ele, sempre sem explicação e nunca com sequer um vislumbre de resolução. Neyestani representa bem o desespero kafkiano com o prazo indefinido de um julgamento do qual ele não é culpado, assim como sua transferência de cela para cela, de país para país, sem mudança alguma para sua tormenta.
O estilo de desenho é nitidamente obra de um cartunista e os governantes, juízes e advogados são caricatos até mesmo no comportamento. Neyestani também reduz a si mesmo no quadrinho a uma vítima das circunstâncias, sempre na condição de sujeito passivo que é submetido à espera sem fim. Sua resolução com a barata resgatada repetidas vezes durante todo o enredo é bastante previsível, além de meio ridícula. Ridículo também é o humor fora de lugar na maior parte dos momentos, como as tentativas de metaficção que destoam muito do restante da narrativa no qual esse tipo de experimentação não tem lugar. Também senti falta de uma contextualização maior, ao final pouco sabemos sobre as particularidades daquele momento histórico; poderiam ser inseridas nesses momentos de humor mais leve, em vez da utilização de referências genéricas e ocidentalizadas.
Mas o saldo final é positivo e Uma metamorfose iraniana é um quadrinho satisfatório.