A review by acrisalves
A Fantasy Medley 3 by Kevin Hearne, Jacqueline Carey, Aliette de Bodard, Yanni Kuznia, Laura Bickle

3.0

A Fantasy Medley 3 compiles four new stories from four known fantasy writers that are set in universes and with characters that are explored in other stories, but unfortunately they some of them lack the ability to create empathy or any sense of credibility. That was my impression of the first story, Goddess at the crossroads, an adventure with too many contrived points. In the other hand, Ashes from Laura Bickel is a tiresome adventure with few interesting points but with too many overturns.
Fortunately, there are two more stories, two enjoyable stories. The Death of Alguillon presents rivalry between powerful Houses by the eyes of the week. Strong in creating empathy it’s a closed story were the events almost escape the will of the main character. Well written and giving just enough details of the reality, The Death of Alguillon is the best story from this book.
One Hundred Ablutions is also a good story. The opening lines are common. I can easily recall a handful of stories with a similar beginning – a chosen girl picked for some glorious but unwanted destiny. This time the destiny of several girls is the seed for rebellion and we see them grow, slowly. At the edge of becoming a fantasy love story, the tale draws back and finishes wisely.

Em português no blogue Rascunhos
https://acrisalves.wordpress.com/2015/12/03/a-fantasy-medley-3/

Um dos problemas de se apresentarem episódios de universos mais vastos é poderem deixar o sentimento de histórias incompletas, ou às quais falta o total enquadramento ou conclusão. Esta compilação apresenta apenas quatro histórias longas, histórias de universos que parecem não ser novos- talvez por isso, nem todos se aguentam como histórias isoladas.

Goddess at the crossroads de Kevin Hearne abre o conjunto apresentando um druida com vários séculos de idade que, ouvindo parte da conhecida canção das três bruxas (Fire burn and cauldron bubble…), recorda um episódio que o arrepia. Questionado pelos amigos conta a pequena aventura onde conheceu Shakespeare e que originou a cantiga.

Esta necessidade de pegar em personagens muito conhecidas e de tentar criar episódios para justificar as suas criações ou acontecimentos nem sempre funciona bem. Neste caso houve alguns factos que me pareceram forçados e demasiado coincidentes.

Há muitas décadas o druida, interessado em Shakespeare, mascara-se de nobre e conhece-o numa taberna. Claro que, precisamente naquela noite, o escritor irá procurar o local onde terão sido avistadas bruxas, para dar maior vivacidade à cena de uma peça. O druida resolve acompanhá-lo.

Depois de enfrentarem um pequeno grupo de bandidos encontram três poderosas bruxas que estarão, naquela noite, a conjurar um feitiço para chamar uma antiga e maléfica deusa grega. Na altura chave do feitiço os bandidos que tinham derrotado irrompem pela clareira – mesmo a tempo do sacrifício. E na medida exacta em que são necessários – 3.

Existem várias histórias que aproveitam personagens ou momentos importante para os seus episódios. Muitas com sucesso. Neste caso, mesmo sendo uma aventura movimentada, apresenta os factos de forma forçada, com coincidências pouco agradáveis. Detalhes que poderiam passar despercebidos se ocorressem apenas uma vez.

Ashes de Laura Bickel também nos apresenta uma personagem que, se percebe pelas falas das personagens, terá sido usada em outras aventuras. Anya será uma investigadora capaz de engolir fantasmas, e trazer, desta forma, alguma paz aos locais onde se encontram.

Mas desta vez não é um fantasma que procura, antes uma criatura sobrenatural que estará relacionada com a mitologia daquela cidade, iniciando incêndios e provocando catástrofes. Depois de demasiadas reviravoltas acompanhada por um demónio, que se alongam por demasiadas páginas, encontra a criatura e descobre uma verdade sobre a sua própria natureza.

A terceira história é The Death of AIguillon de Aliette de Bodard, uma história mais interessante do que as anteriores, que nos apresenta uma cidade devastada por uma guerra entre Casas. Esta rivalidade entre Casas, seja apenas política ou assemelhando-se a guerra de gangs, é um factor que está presente em quase todas as histórias de Bodard.

As Casas representam famílias poderosas que protegem um conjunto de empregados da casa que, desta forma, estão socialmente acima dos comerciantes ou dos agricultores. Neste caso a história centra-se numa jovem, ajudante na cozinha, que conseguiu escapar à destruição da sua Casa. Quando retorna para recolher algo precioso, como outros tantos, percebe que um dos elementos poderosos da Casa se esconde através da magia, ferido e a precisar de ajuda.

Criando empatia através de uma única personagem central, é uma história fechada, ainda que dê dicas de poderem existir outras no mesmo Universo. A magia tem um papel diferenciador na sociedade, distinguindo os nobres da casa da classe trabalhadora, mas tem um papel bastante reduzido nesta história.

A última história é de Jacqueline Carey, One Hundred Ablutions, retratando um mundo com, pelo menos três, espécies humanóides. A personagem central, uma rapariga da espécie conquistada, é uma das sorteadas para seguir uma vida de quase reclusão, com a honra de servir uma família da espécie conquistadora. Com detalhes que recordam alguns relatos de escravatura, segue a semente de revolta que irá dar origem a uma reviravolta de poder.

Empático e sem se perder em detalhes desnecessários, não tem um início muito original (rapidamente consigo lembrar-me de algumas histórias recentes com um começo semelhante) mas compensa em desenvolvimento. Os elementos que originam a reviravolta encontram-se ao longo da história, conseguindo ser credível sem grande previsibilidade. Existe algum romantismo, mas apenas no final da história, o que não a chega a tornar como fantasia romântica.

Contendo quatro longas histórias de quatro autores diferentes. Os dois primeiros achei-os fracos. Ambas são episódios de uma série de aventuras de personagens usadas recorrentemente pelos autores. O primeiro força coincidências e factos, alienando o leitor. Já o segundo perde-se em reviravoltas inconsequentes. Talvez por se tratarem de episódios, não desenvolvem a personagem e não deixam um sentimento conclusivo.

Felizmente, gostei mais das duas histórias seguintes. A terceira é uma historia empática de final pouco previsível que foge do engrandecimento fácil da personagem principal. A última história é a única que não contem referência a magia, envolvendo o leitor no conflito da personagem principal, sem demasiados detalhes ou grandes lamentos, mas levando a uma reviravolta interessante.

(cópia fornecida pela editora Subterranean Press através de NetGalley).