A review by fevi
O parque das irmãs magníficas by Camila Sosa Villada

dark emotional funny inspiring reflective sad tense fast-paced
  • Plot- or character-driven? Character
  • Strong character development? Yes
  • Loveable characters? Yes
  • Diverse cast of characters? It's complicated
  • Flaws of characters a main focus? Yes

5.0

O parque das irmãs magníficas é uma das melhores leituras do ano para mim. É impecável.

Em relatos sobre a sua vivência e de outras travestis com altas doses de realismo mágico, Camila Sosa Villada constrói um enredo que escancara de forma crua a vida travesti. Entramos em um mundo de exuberância que é carregado de muita dor, preconceitos e violência. Villada deixa claro que ser travesti é maravilhoso por mais doloroso que seja. Porque se afirmar e existir como travesti é ser realmente que ela é.

Lendo sobre a experiência de Villada com a prostituição e das outras travestis me atentei o quanto a vida das minorias se assemelham independentemente do lugar em que sobrevivem. Não pude deixar de relacionar O parque das irmãs magníficas com a série espanhola Veneno, que narra a vida da transexual La Veneno, e a peça Brenda Lee e o palácios das princesas, obra que encena momentos da vida da ativista transexual brasileira Brenda Lee. São determinadas pela sociedade rica, poderosa e também pelos preconceituosos o limbo para aqueles que não nascem de acordo com as regras vigentes. Esse é um ponto comum em todas as obras. Dessa forma as mulheres travestis e transexuais na maioria das vezes precisam viver da prostituição, sofrer humilhações, violências e mendigar pelo básico para sobreviverem. Não são consideradas humanas. São apenas aberrações que precisam ser extirpadas da sociedade por pessoas hipócritas que se denominam de bem.

A luta para viver é constante, mas toda vida travesti e transexual é marcada por dores. Os relatos de tantas outras personagens que exploram a vivência com familiares, a busca incessante por pertencimento e acolhimento. Apesar da constante batalha contra o medo há que perpassa todo o livro há também momentos bonitos e felizes. Muito deles estão relacionados com as relações de irmandade entre as travestis. Os momentos de união e ajudas umas para com as outras. 

Essa autoficção que bebe do realismo mágico mostra de forma interessante a marginalização que impomos para corpos diferentes dos nossos. É uma obra que traz uma questão não só para refletir e/ou admirar, mas que precisa ser urgentemente transformada. Não podemos deixar que tantas outras vidas possam ser destruídas somente por não estarem em comunhão com o padrão aplicado. Um relato forte que precisamos tomar e transformar. Criar novas vidas e expectativas para vidas transexuais e travestis. 

Recomendadíssimo.