A review by igormdemiranda
Macunaíma: o herói sem nenhum caráter by Mário de Andrade, E.A. Goodland

3.0

Escrito em "seis dias ininterruptos de rede, cigarras e cigarros", 'Macunaíma' é um livro (para o bem e para o mal) frenético, caótico, cheio das contradições e inconsistências , um verdadeiro regurgito de aspectos culturais e folclóricos brasileiros que borbulhavam na mente de Mário de Andrade conforme ele o escrevia. Penso que Mário queria que fosse dessa forma mesmo: uma bagunça, uma baderna, como foi a formação e como é o nosso Brasil. Servia, além disso, a outros propósitos: era claro o seu interesse em desconstruir (e satirizar) o romance indianista, por isso, uma construção tão sem esmeros, quase um atentado às tradições de José de Alencar e outros indianistas. Por essas e outras, devemos sempre pensar em Macunaíma mais como um manifesto do que como uma obra literária em si. Não sei se me faço claro o bastante. Mas é que vejo a obra como maior por toda a história que a acompanha do que por si mesma. Não que seja uma leitura ruim ou complicada. É, na verdade, muito engraçada. Flui quando você se deixa levar pelas loucura de Macunaíma, pelos saltos no espaço pelo mapa do Brasil e quando se permite enxergar toda aquela balbúrdia surrealista como verdadeira. Mesmo assim, a paciência é um requisito, tida por aqueles que reconhecem esse entornos todos. Não é estranha a sensação de 'o que é que está acontecendo aqui'.

O tal herói, Macunaíma, o personagem, é tudo, menos herói. O sem caráter, no entanto, é verdade.
O índio Macunaíma é preguiçoso, espertalhão, não respeita nem os astros e nem os irmãos e vive de sacanagem com todas as cunhãs que encontra. Enquanto lia Macunaíma, pensava no Homem Cordial de Sérgio Buarque de Holanda. Macunaíma faz o que faz e ainda gostamos dele. Para Mário de Andrade, ele era o retrato do brasileiro: gatuno, improvisador, sem qualquer consciência tradicional. As raízes.

E que edição bonita essa da Ubu.