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A review by ritaralha
Quando os Lobos Uivam by Aquilino Ribeiro
5.0
Aquilino Ribeiro, escritor, conspirador anti-monárquico, propagandista republicano e resistente democrata, é um dos grandes nomes da literatura portuguesa e repousa, desde 2007, com a dignidade merecida, no Panteão Nacional.
A sua vida foi bastante atribulada. Depois de vir viver para Lisboa foi preso em 1907, acusado de ataque bombista e anarquismo. Fugiu, e exilou-se em Paris. Após a proclamação da República voltou a Portugal mas, em 1928, volta a exilar-se. Foi casado duas vezes e teve um filho de cada relacionamento, Aníbal, o primogénito e para quem escreveu O Romance da Raposa, e Aquilino Ribeiro Machado que foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa entre 1977 e 1979.
Em 1960 foi proposto para o Prémio Nobel da Literatura.
Quando os Lobos uivam retrata a luta dos beirões em defesa dos terrenos baldios, durante a ditadura, nos finais dos anos 40 e início dos anos 50.
"A serra foi dos serranos desde que o mundo é mundo, herdade de pais para filhos. Quem vier para no-la tirar connosco se há-de haver."
A sua publicação em 1958 valeu-lhe um mandado de captura e a apreensão de todos os exemplares, já vendidos, pelo Estado Novo. Tornou-se um dos livros banidos pelo regime de Salazar.
TRANSCRIÇÃO do Relatório/Censura N.º 6282 (7 de Fevereiro) relativo a
"QUANDO OS LOBOS UIVAM" DE AQUILINO RIBEIRO,
no blog Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira
«O autor intitula este livro de romance, mas com mais propriedade deveria chamar-lhe de romance panfletário, porque todo ele foi arquitectado para fazer um odioso ataque à actual situação política.
Escrito numa prosa viril, classifica o governo de "piratas" e descreve várias Autoridades, Funcionários, Polícia, Guarda Republicana e Tribunais em termos indignos e insultuosos.
Um interrogatório num posto da G.N.R. e uma audiência dum Tribunal Plenário, são focados de uma forma infamantes.
São desnecessárias mais citações, porque basta folhear o livro, encontra-se logo matéria censurável em profusão.
É evidente que, se o original tivesse sido submetido a censura prévia, não teria sido autorizado, porque é, talvez, a obra de maior ataque político que ultimamente tenho lido.
Sucede, porém, estou disso certo, que já devem ter sido vendidos muitas centenas de exemplares, e muitos outros também, já devem ter passado a fronteira, por isso, deixo ao esclarecido critério de V.Exa., decidir se nesta altura, será de boa política mandar apreender o livro, fazendo-lhe (...)».
Com base no Relatório, lê-se, foram tomadas as seguintes decisões:
«1) Não autorizada a reedição;
2) Não permitidas críticas em imprensa;
3) Apreender os poucos exemplares que, possivelmente, existam (...)».
Despacho assinado pelo censor.
Uma curiosidade é que enquanto, em terras lusas, o regime tentava amordaçar o escritor, no Brasil era publicado um livro chamado Quando os lobos julgam a justiça uiva – texto integral da acusação e defesa no processo de Aquilino Ribeiro.
António de Oliveira Salazar acabou por reconhecer a mestria de Aquilino:
"É um inimigo do Regime. Dir-lhe-á mal de mim; mas não importa: é um grande escritor."
Desengane-se quem acha que é um escritor fácil, porque não é. A escrita é magnífica, a riqueza do vocabulário exuberante, original e pitoresco - lembrou-me por vezes Camilo Castelo Branco – cheia de regionalismos e arcaísmos que dão força à narrativa. Para um bicho da cidade, como euzinha, alguns termos regionais são praticamente impossíveis de entender, por isso, tive que socorrer-me do Glossário sucinto para melhor compreensão de Aquilino Ribeiro, Elviro da Rocha Gomes.
Bendita internet, fazes milagres quando mais precisamos.
Talvez, hoje em dia, não se dê a devida importância a Aquilino mas sem dúvida que é um dos maiores prosadores da língua portuguesa.
P.S. — Obrigada Teresa pelo livro, já está prontinho para regressar à base 😉
A sua vida foi bastante atribulada. Depois de vir viver para Lisboa foi preso em 1907, acusado de ataque bombista e anarquismo. Fugiu, e exilou-se em Paris. Após a proclamação da República voltou a Portugal mas, em 1928, volta a exilar-se. Foi casado duas vezes e teve um filho de cada relacionamento, Aníbal, o primogénito e para quem escreveu O Romance da Raposa, e Aquilino Ribeiro Machado que foi Presidente da Câmara Municipal de Lisboa entre 1977 e 1979.
Em 1960 foi proposto para o Prémio Nobel da Literatura.
Quando os Lobos uivam retrata a luta dos beirões em defesa dos terrenos baldios, durante a ditadura, nos finais dos anos 40 e início dos anos 50.
"A serra foi dos serranos desde que o mundo é mundo, herdade de pais para filhos. Quem vier para no-la tirar connosco se há-de haver."
A sua publicação em 1958 valeu-lhe um mandado de captura e a apreensão de todos os exemplares, já vendidos, pelo Estado Novo. Tornou-se um dos livros banidos pelo regime de Salazar.
TRANSCRIÇÃO do Relatório/Censura N.º 6282 (7 de Fevereiro) relativo a
"QUANDO OS LOBOS UIVAM" DE AQUILINO RIBEIRO,
no blog Ephemera - Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira
«O autor intitula este livro de romance, mas com mais propriedade deveria chamar-lhe de romance panfletário, porque todo ele foi arquitectado para fazer um odioso ataque à actual situação política.
Escrito numa prosa viril, classifica o governo de "piratas" e descreve várias Autoridades, Funcionários, Polícia, Guarda Republicana e Tribunais em termos indignos e insultuosos.
Um interrogatório num posto da G.N.R. e uma audiência dum Tribunal Plenário, são focados de uma forma infamantes.
São desnecessárias mais citações, porque basta folhear o livro, encontra-se logo matéria censurável em profusão.
É evidente que, se o original tivesse sido submetido a censura prévia, não teria sido autorizado, porque é, talvez, a obra de maior ataque político que ultimamente tenho lido.
Sucede, porém, estou disso certo, que já devem ter sido vendidos muitas centenas de exemplares, e muitos outros também, já devem ter passado a fronteira, por isso, deixo ao esclarecido critério de V.Exa., decidir se nesta altura, será de boa política mandar apreender o livro, fazendo-lhe (...)».
Com base no Relatório, lê-se, foram tomadas as seguintes decisões:
«1) Não autorizada a reedição;
2) Não permitidas críticas em imprensa;
3) Apreender os poucos exemplares que, possivelmente, existam (...)».
Despacho assinado pelo censor.
Uma curiosidade é que enquanto, em terras lusas, o regime tentava amordaçar o escritor, no Brasil era publicado um livro chamado Quando os lobos julgam a justiça uiva – texto integral da acusação e defesa no processo de Aquilino Ribeiro.
António de Oliveira Salazar acabou por reconhecer a mestria de Aquilino:
"É um inimigo do Regime. Dir-lhe-á mal de mim; mas não importa: é um grande escritor."
Desengane-se quem acha que é um escritor fácil, porque não é. A escrita é magnífica, a riqueza do vocabulário exuberante, original e pitoresco - lembrou-me por vezes Camilo Castelo Branco – cheia de regionalismos e arcaísmos que dão força à narrativa. Para um bicho da cidade, como euzinha, alguns termos regionais são praticamente impossíveis de entender, por isso, tive que socorrer-me do Glossário sucinto para melhor compreensão de Aquilino Ribeiro, Elviro da Rocha Gomes.
Bendita internet, fazes milagres quando mais precisamos.
Talvez, hoje em dia, não se dê a devida importância a Aquilino mas sem dúvida que é um dos maiores prosadores da língua portuguesa.
P.S. — Obrigada Teresa pelo livro, já está prontinho para regressar à base 😉