A review by rolandosmedeiros
Da Minha Terra à Terra: Pela Primeira Vez, o Maior Fotojornalista do Mundo Conta sua História by Isabelle Francq, Sebastião Salgado

2.0

Esse é um livro que (vou poupar seu tempo dizendo isso) só deve ser lido se você esgotou tudo que há sobre o Sebastião por aí. Apesar das poucas páginas, e da escrita sóbria, é mais útil para os gringos do que para gente. É uma seção de Wikipedia ligeiramente mais expandido. Em vez disso, há, além do muito, muito bom "O Sal da Terra", as três entrevistas do Sebastião no Roda Viva que são mais interessantes e profundas que este livro — além das próprias exposições e livros de fotografia do homi'. Se você fala ou entende português (ou encara as legendas automáticas, substitua esse livro pesquisando: "Sebastião Salgado", "Roda Viva" no google). Você vai me agradecer.

[Agora, a antiga resenha de quando ainda não tinha t o erminado o livro]


José Saramago diz: “Sentamo-nos ao redor da mesa da cozinha, fomos passando as fotografias de mão em mão, quase em silêncio, com um nó na garganta e os olhos afogados. Sebastião Salgado veio aqui para me pedir que escreva umas páginas para o livro. Assim farei, embora de antemão saiba que, diante do que acabei de ver, todas as palavras sobram, todas são de mais. Ou de menos”. Sebastião foi atrás dele em uma das ilhas que ele morava, não só o encontrou como também o trouxe para o Brasil e juntou-o com Chico Buarque em uma trinca poderosa, para a finalização do seu livro de fotografia ''Terra'', em prol do MST. Livro icônico e premiado com o Jabuti de Literatura.

"Os retratos de Salgado oferecem um retrato múltiplo da dor humana. Ao mesmo tempo, convidam-nos a celebrar a dignidade humana. São de uma franqueza brutal essas imagens de fome e de pena, e, no entanto, têm respeito e pudor. Nada a ver com o turismo da miséria…" Dessa vez quem diz é Eduardo Galeano, e é impossível discordar.

Em Outras Américas, já havia fotografado "Estas Américas Latinas tão misteriosas e sofridas, tão heroicas e nobres."; Em África, tentou mostrar que ''A África não é um continente subdesenvolvido, tem o desenvolvimento que tem. Está buscando sua identidade. Os pobres não necessitam piedade ou caridade, mas compressão e assistência."; Em Êxodos, escancara devastação, campos de refugiados, repressão, guerras e favelas; Em Trabalhadores, dignifica os trabalhadores manuais, que julga prestes a desaparecer, com a veloz industrialização que vem vindo a todo vapor; até culminar em Gênesis, uma carta de amor à humanidade e ao mundo.

Em alguns minutos procurando por alguns desses trabalhos ou algumas fotografias avulsas você já sente o impacto do Tião. Indiscutivelmente o maior fotógrafo brasileiro e um ser humano iluminado: vê-se a exemplo a criação do Instituto Terra, onde com sua esposa, replantaram dois milhões de mudas de árvores, restituindo parte da Mata Atlântica antes devastada, na sua terra em Minas Gerais.

No entanto, pouco disso é visto nessas míseras cento e trinta e poucas páginas. O Documentário sobre seu trabalho, feito pelo grande cineasta alemão Wim Wenders junto do filho do Sebastião, ''O Sal da Terra'', faz surpreendetemente um papel muito melhor que o livro biográfico (digo surpresa porque geralmente os filmes "biográficos" são resumos de resumos). O filme chegou a concorrer ao Oscar, e dado os concorrentes podia muito bem ter vencido; as fotos e narração do Sebastião, com a direção e edição do Wim Wenders, são exuberantes, me emocionei em diversas partes documentário, o que eu cravo com absoluta certa ser impossível de acontecer nessas páginas, secas. As três vezes que foi entrevistado no Roda Viva, por exemplo, foram melhores, mais úteis e fazem mais jus ao grande homem Sebastião.

Esse livro aqui podia ter sido escrito por mim, ou por você, não é um trabalho biográfico. Ponto.
O Sebastião ditou e a Isabelle Francq escreveu da maneira mais simples e prosaica possível, formulaica ao extremo. O livro é disparadamente fraco em comparação com tudo que se tem por aí sobre o Sebastião. Só não considero uma perda de tempo pois ao menos a autora não enrola e não comete grandes erros ou gafes. É um livro só… meio inútil. Faz com que permaneça a necessidade de uma outra (e verdadeira) biografia escrita do Sebastião; na realidade, será mais prazeroso para você conhecer o Sebastião através dos seus próprios livros-reportagens, com fotografias soltas mais sutis, singelas e emocionantes, que todo esse livro aqui, que não passa de uma grande página da Wikipedia.

Por último, um crime cometido por esse livro, uma censura ou cesura deliberada: ocultar a maior qualidade do Sebastião Salgado… não é dito que ele torce para o mais belo clube do Rio de Janeiro: O Fluminense Futebol Clube. É um homem lúcido em todos os aspectos da vida, até na escolha de que para qual time torcer… O motivo dessa ocultação só pode ser um: a francesa que escreveu a biografia, além de péssima biógrafa, é flamenguista.