A review by katya_m
Amor num clima frio by Nancy Mitford

"Lady Montdore adorava qualquer representante da realeza. Era emoção genuína e completamente desinteressada pois adorava-os quer estivessem no exílio ou no poder e esse amor era consumado nas vénia que lhes fazia. No entanto, as vénias de Lady Montdore, tendo em conta a solidez da sua constituição física, não faziam lembrar os movimentos graciosos das espigas de trigo agitadas pela brisa. Deixava-se cair como um camelo e quando se levantava erguia primeiro o rabo como uma vaca numa performance estranha que se podia supor dolorosa para a executante, cuja expressão facial, porém, logo desmentia esta ideia. Os joelhos estalavam-lhe como tiros de revólver, mas o sorriso dela era celestial."

Este segundo volume da trilogia Raddlet e Montdore não teve a mesma força que o anterior para alimentar quase duas centenas de páginas com a biografia sanitizada das aristocráticas Mitford e amigos.
Felizmente, as narrativas independentes dos três volumes permitem ao leitor fazer uma escolha desobrigando-o de percorrer a série completa.

Face ao anterior, Amor Num Clima Frio é um romance de maior maturidade, de ritmo mais compassado, mas, curiosamente, menos cauteloso nas demonstrações xenófobas, misóginas etc. Além disso, a caricatura de que Mitford usa e abusa neste livro está largamente ultrapassada, e falha em conseguir captar a atenção dos leitores contemporâneos, arrisco dizer.
Sinto que ao longo da narrativa se quebraram um pouco o espírito mordaz e a crítica ácida que habitaram o primeiro volume. Entretanto, os personagens mantêm a sua vivacidade, são coloridas e familiares, mas o enredo não se desenvolve senão para lá da primeira metade do livro (aliás, o mesmo aconteceu com A Procura Do Amor).

" - O importante, querida - disse ela - é ter um casaco de peles mesmo bom. Quero dizer, um casaco adequado, escuro.(...)Não só fará com que o resto da tua roupa pareça melhor do que é, como não vais ter de te preocu par com mais nada, pois nunca precisarás de o despir. E sobretudo não te ponhas a gastar dinheiro em roupa interior, não há nada mais estúpido. Eu uso sempre a do Montdore, por exemplo."

A tradução também não me encantou - por qualquer razão a editora optou por não manter a tradutora do primeiro volume - resultando em dificuldades de leitura de que não havia necessidade nenhuma.
Valeu pelo tio Mathew e Lady Montdore, personagens satíricos por excelência, levados tão ao exagero que perdem qualquer verosimilhança servindo apenas de bom divertimento.

"Lembrou-se de me pedir Mrs. Dalloway antes de se ir embora e lá partiu, de livro na mão, uma primeira edição. Tive a certeza de que era a última vez que lhe punha a vista em cima mas ela devolveu-me o livro na semana seguinte, dizendo que de facto tinha de se pôr a escrever porque podia fazer muito melhor do que aquilo."