A review by joanaff17
Zen in the Art of Writing by Ray Bradbury

3.0

Quem corre por gosto não cansa, e ler sobre escrita é algo que nunca me cansa de todo. Desta vez, decidi ler sobre escrita na perspectiva de um dos grandes autores do século XX/XXI. Ray Bradbury é talvez mais conhecido pelo seu Fahrenheit 451, um clássico daqueles bem clássicos e que todos devem ler.
Não sou particularmente fã de Bradbury, mas reconhecendo o seu peso no cânone da literatura ocidental, achei que uma conversa com ele sobre escrita seria, no mínimo, válida e útil.
No entanto, este livro será particularmente interessante para aqueles que são verdadeiramente fãs do autor. Eu explico.
A visão de Bradbury sobre a escrita é que escrever sobre o que se conhece resulta, e no seu caso, tem resultado bem. Faz todo o sentido. Para Bradbury, se nos sentarmos frente a uma folha em branco e uma caneta na mão e formos pensando no que já vivemos e escrevendo tópicos (uma espécie de "escreve a primeira palavra que te vem à cabeça"), acabaremos com uma listinha de palavras que, ainda que possam parecer estranhas ao início, são na verdade uma manifestação de histórias por contar que trazemos no subconsciente sem saber.
Esta ideia é muito engraçada e interessante. Se eu pensar em "cão", depois de pensar um pouco sobre por que motivo o meu cérebro de lembrou desta palavra, posso acabar a desenvolver uma história que tem partes reais baseadas nos anos que tive com a minha cadela Mitzi. E destas pequenas listas podem surgir histórias muito, muito interessantes que, depois de tanto esperarem dentro da nossa cabeça, saem em catadupa quando lhes damos atenção. Sei que isto funciona porque já me aconteceu. Bradbury simplesmente descobriu e verbalizou isto. Muito interessante mesmo.
Por outro lado, sendo este o grande tema do livro, 97% do tempo estamos a ler sobre a vida de Bradbury, à medida que ele explica como chegou a este livro ou àquela ou aqueloutra história da sua autoria. E é por isso que Zen in the Art of Writing será um gostinho para quem é fã, e um pouco aborrecido para quem apenas queria ler sobre escrita, e não sobre o autor. A lição que eu procurava, o que aprendi, resume-se ao que escrevi acima.
No último capítulo, no entanto, o autor foi mais ao encontro do que eu procurava e deixa-nos algumas páginas mais dedicadas à escrita propriamente dita, de uma forma geral. Gostei muito deste capítulo porque reúne conceitos importantes e interessantes sobre escrever e que, para mim, fazem todo o sentido e reflectem a minha forma de pensar sobre a arte de escrever. Conto voltar a estas páginas de vez em quando, para me reorganizar enquanto escritora.