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A review by colinlusk
Capitães da Areia by Jorge Amado
5.0
Raramente leio livros brasileiros porque português brasileiro é tão diferente. Ainda por cima, o português neste livro é longe do padrão de português brasileiro: há montes de calão, expressões regionais e gramática específica à região onde a história tem lugar. Mas apeteceu-me ler porque ouvi tantas coisas boas sobre este autor e esta obra sobretudo. O livro conta a história dum grupo de jovens e meninos abandonados que moram num trapiche(1). Recordei-me dos “Lost Boys” de JM Barrie (o líder ate se chama Pedro, a versão português de Peter) ou as carteiristas do Fagin no Oliver Twist de Dickens. Mas o tom do romance é mais escuro.
São criminosos, temidos pela gente da cidade, mas ao mesmo tempo, são crianças que sentem saudades da segurança e da felicidade de um lar e uma família. São sempre à procura de uma “mãezinha” e querem ir brincar no carrossel. Sem hipótese de viver como crianças, tornaram-se homens, mas não só homens: criminosos. Roubam viúvas, exploram pessoas simpáticas, lutam com navalhas e punhais. A personagem principal, com quem o autor pretende nos simpatizemos, até viola uma rapariga, o que é contado de maneira gráfica, e fica surpreendido quando depois ela o pragueja.
Ao longo dos meses, as personagens andam pelos seus percursos – há tragédia e redenção, mas o pano de fundo contra o qual o enredo se desenrola é a violência e caos na sociedade brasileira nos anos trinta do século XX, e o autor retrata esta sociedade muito nitidamente. É um livro virtuosístico.
(1) Entendi esta palavra como “armazém” mas ao que parece, tem um outro significado em PT-BR: um cais. Acho que armazém faz mais sentido neste contexto porque não consigo imaginar dezenas de pessoas a dormir num cais! Mas vou ver o filme em breve e espero entender melhor depois.
São criminosos, temidos pela gente da cidade, mas ao mesmo tempo, são crianças que sentem saudades da segurança e da felicidade de um lar e uma família. São sempre à procura de uma “mãezinha” e querem ir brincar no carrossel. Sem hipótese de viver como crianças, tornaram-se homens, mas não só homens: criminosos. Roubam viúvas, exploram pessoas simpáticas, lutam com navalhas e punhais. A personagem principal, com quem o autor pretende nos simpatizemos, até viola uma rapariga, o que é contado de maneira gráfica, e fica surpreendido quando depois ela o pragueja.
Ao longo dos meses, as personagens andam pelos seus percursos – há tragédia e redenção, mas o pano de fundo contra o qual o enredo se desenrola é a violência e caos na sociedade brasileira nos anos trinta do século XX, e o autor retrata esta sociedade muito nitidamente. É um livro virtuosístico.
(1) Entendi esta palavra como “armazém” mas ao que parece, tem um outro significado em PT-BR: um cais. Acho que armazém faz mais sentido neste contexto porque não consigo imaginar dezenas de pessoas a dormir num cais! Mas vou ver o filme em breve e espero entender melhor depois.