Reviews

O Último Cais by Helena Marques

blueyorkie's review

Go to review page

5.0

The novel O Último Cais, whose action takes place at the end of the nineteenth century in Funchal, in the Madeira Islands, shows a diverse group of women from different generations. This work focuses on the manifestation of the feminine in O Último Cais, with particular relevance on the characters that impose themselves by the plausibility and consistency of their construction. It starts by exploring the documentary dimension of the romance by characterising women’s situation in that time’s society historically, in public and private spaces. Then it continues with the study of the main female characters, commenting on some of their personality features and showing their life path. Finally, it reflects several aspects of the narrative instance, marked by a feminine perspective.

katya_m's review

Go to review page

"Marcos vivia, então, na Penha, numa casa sobranceira ao porto, instalara cadeiras de deck na varanda, estendia-se ao sol olhando os barcos através dos seus potentes binóculos, velho marinheiro na ponte de um navio ancorado, à espera de chegar ao seu último cais."

O Último Cais é bem capaz de ser o romance mais belo que me foi dado ler até aos dias de hoje. Com a ilha da Madeira e a ameaça do dealbar republicano como pano de fundo, traça a história da família Vaz Lacerda, e permite toda uma reflexão histórica e social que não se esgota no tempo da narrativa.

"Feliz Marcos que pode quebrar a monotonia e fugir, ser médico da Armada por um ano, sempre que a claustrofobia da ilha atinge o ponto de sufocação. E eu?, pergunta-se Raquel, debruçada à janela da casa do Vale Formoso, à janela onde se debruça todos os dias de toda a sua vida. E eu? Para mim, que nasci mulher, que quis casar e ser mãe, para mim nada mudou desde Penélope. O meu quinhão é esperar. Dentro de casa. Fiando. Ou olhando o mar. Sorri, apesar de tudo."

Como em muitas narrativas de anos 80/90, também o texto de Helena Marques reflete uma preocupação com o tempo feminino, os papéis de género, a liberdade de escolha das mulheres, as implicações de assumir ou não o estatuto de mulher, mãe, cuidadora:

"O sexo feminino, divaga Raquel com subversiva inocência, tem afinal duas componentes, as mulheres e as senhoras. Até nos actos de nascer, parir ou morrer há diferenças - ou injustiças?"

"As velhas meninas não têm idade. Pertencem àquele grupo anónimo,(...)e marginal das mulheres sem marido. Não casaram por razões várias, porque perderam a frescura à cabeceira de pais doentes, porque perderam a virgindade num escândalo impossível de ocultar, porque são demasiado feias ou demasiado pobres ou demasiado insípidas, por qualquer dessas razões que nunca chegaram a sê-lo para um homem, haverá algum solteirão que o não seja por vontade, mesmo sendo feio, insípido e estúpido, conquistador nem se fala, até pobre, quando é que um homem pobre não se casa(...)?"

Entrementes, não lhe escapa o retrato de época. O Último Cais está pejado de maravilhosas descrições da ilha, de factos históricos discretos e deliciosos:

"«Li a bordo, num jornal de Capetown», recorda Marcos, «que está a fazer grande sucesso na América uma nova aplicação do invento de Edison,»(...)segundo o jornal, o fonógrafo reproduziu o hino do centenário da independência dos Estados Unidos cantado por coros afinadíssimos, tal qual fossem vozes humanas.»"
(...)
«Ah, mas eu li uma coisa ainda mais espantosa numa revista hoje chegada de Londres», interrompe Rodolfo, «parece que o senhor Bell, o inventor do telefone, prepara um maquinismo que permitirá ver pelo telégrafo, é assim mesmo que a revista descreve o invento."

Num périplo geracional, Helena Marques ancora a sua narrativa num eixo de personagens femininas heróicas e míticas: Raquel qual Penélope que aguarda o retorno do esposo amado a casa; Marta e Maria, duas faces da mesma moeda que se desdobram entre o mundo ativo e o contemplativo; Catarina, virgem e doutora... Cada personagem neste texto parece ter o seu doppelgänger simbólico.
E é através destas mulheres que a autora oferece aos leitores uma perspectiva privilegiada dos espaços murados que são a ilha, a casa, o casamento em finais de século XIX - não deixando de insinuar que à clausura se opõe a vontade destas mulheres por mais e melhor, conquistando a pouco e pouco, e a suas expensas, para as suas descendentes, a liberdade e igualdade que anseiam viver.

"(...)como era fácil falar a uma médica de problemas de mulheres, de menstruações dolorosas, de menopausas inquietantes, de gravidezes indesejadas, de virgindades a perder em misteriosas noites de núpcias. E como era, por si só, tão terapêutico poder falar, falar num lugar seguro e inviolável mas que não era o confessionário com o seu ancestral clima de temor, falar a outra pessoa que não um padre, um homem-padre de obtusa compreensão, sobre misérias da vida conjugal, sobre a violência e a frequente humilhação implícitas nesse dever que a Igreja declara santo e irrecusável, «nunca uma mulher se negará a seu marido»."

Por qualquer estranha razão, é-me muito mais fácil analisar obras pelas quais não sinto afeição, muito mais simples sondar significados e mensagens nos livros cuja história me deixa indiferente. Com este O Último Cais não sobram palavras. A beleza, a riqueza destas duas centenas de páginas supera qualquer bem intencionada tentativa de crítica.

singularidadesdoslivros's review against another edition

Go to review page

4.0

Lido no âmbito do Concurso Nacional de Leitura (PNL), na 1ª fase - fase a nível de escola ;)

blueyorkie's review against another edition

Go to review page

5.0

The novel O Último Cais, whose action takes place at the end of the nineteenth century in Funchal, in the Madeira Islands, shows a diverse group of women from different generations. This work focuses on the manifestation of the feminine in O Último Cais, with particular relevance on the characters that impose themselves by the plausibility and consistency of their construction. It starts by exploring the documentary dimension of the romance by characterising women’s situation in that time’s society historically, in public and private spaces. Then it continues with the study of the main female characters, commenting on some of their personality features and showing their life path. Finally, it reflects several aspects of the narrative instance, marked by a feminine perspective.

theoriginalbia's review against another edition

Go to review page

4.0

This book was very good and also quite empowering.
It follows Marcos and Raquel as well as their very big and complicated family. The story takes place in Madeira, my hometown, which made the book even more interesting for me, and in the British Guiana in the end of the 19th century. The book focuses especially in the women of the family and the women the members of the family know and meet. These are not regular women, however, these are women who fought for themselves and for their rights and interests, these are women who, in one way or another, stood up and fought against society's idea of how they should behave and what they could or couldn't do.
With a terrible plot twist in the middle of the book which makes you consider how you'll get through the rest of it, the book really invites the reader to think about feminism and the importance of gender equality. Moreover, and i believe especially for women, it reminds us that a lot of people, not only women, but people in general have fought very bravely and with extremely harsh consequences for all the right we have today. But that doesn't mean we have won the war, only some, very important, battles, but not the war. So, for those people, it is our duty to be as brave as they were, to speak up, to stand by the rights they've conquered for us and to make sure the future generations have more to defend then we had.
More...