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Eu Canto e a Montanha Dança by Irene Solà

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5.0

 Este livro é diferente de tudo o que li até agora. Demorei algum tempo a apanhar o fio à meada e ao ritmo, mas assim que consegui, tive a certeza de que se tornaria um favorito. Irene Solà tem uma escrita deslumbrante, terna, densa, lírica, poética, visceral e violenta... com uma variedade de estilos... uma espécie de caleidoscópio literário, que é urgente, impele-nos a uma leitura rápida, mas que contrariei e tornei lenta para poder saborear todas as suas nuances.

Este livro recebeu aclamação crítica e vários prémios literários, incluindo o Prémio de Literatura da União Europeia em 2020.

A narrativa deste romance é única, fragmentada, com diferentes vozes narrativas, incluindo personagens humanas, fantásticas, animais e até mesmo elementos naturais, que se entrelaçam para contar a história de uma família atingida pela tragédia, numa região montanhosa dos Pirenéus. Esta multiplicidade de perspectivas cria uma teia narrativa rica e complexa, que nos convida a reconstruir a história a partir de diferentes pontos de vista e sem ser pelo olhar antropocêntrico.

As personagens do romance são variadas e incluem seres humanos, como Domènec (o camponês poeta) e Sió, Hilari e Mia, Jaume, entre outros, bem como vários elementos não humanos que têm voz e nos oferecem as suas perspectivas:

Nuvens de Tempestade, Chuva e Raios

Chegámos com as barrigas cheias. Doridas. Os ventres negros, carregados de água escura e fria e de raios e trovões. Vínhamos do mar e de outras montanhas, e vá-se lá saber de que lugares mais, e vá-se lá saber o que tínhamos visto. (…) Tapámos tudo como um cobertor. (…) Depois da chegada, e da quietude, e da pressão, e de comprimir o ar suave contra o chão, disparámos o primeiro raio. Bang! (…)E então derramámos a água em gotas imensas (…)E nós rimo-nos, ih, ih, ih, ih, enquanto lhe molhávamos a cabeça, e a nossa água se metia por dentro do colarinho da camisa, e percorria os ombros e as costas, e as nossas gotinhas frias despertavam o seu mau humor.


Trombetas-da-morte

Os fungos simbolizam a ligação da vida e da morte, o mistério e a magia da natureza, a resiliência e adaptação, a nutrição e sustentabilidade, e oferecem uma perspectiva que enaltece a diversidade e a riqueza do mundo natural. Representam uma visão colectiva do mundo. Eles não existem uns sem os outros.

O chapéu de uma é o chapéu de todas. A carne de uma é a carne de todas. A memória de uma é a memória de todas. A escuridão. Sim, a escuridão. Como um abraço. Deliciosa. Protectora. Acolhedora. Como uma queda. Incipiente. A terra. Como uma manta, como uma mãe. Preta. Húmida. Aqui somos todas mães. Somos todas irmãs. Tias. Primas.(…)
Porque não há princípio nem fim. Porque o pé de uma é o pé de todas. O chapéu de uma é o chapéu de todas. Os esporos de uma são os esporos de todas. A história de uma é a história de todas. Porque a floresta é das que não podem morrer. Que não querem morrer. Que não morrerão porque sabem tudo. Porque transmitem tudo. Tudo o que é preciso saber. Tudo o que é preciso transmitir. Tudo o que é. Semente partilhada. A eternidade, coisa leve. Coisa diária, coisa pequena.


Corço
Que nos remete para a inocência e vulnerabilidade, e que perante a sua perseguição na floresta nos amplia a empatia e compaixão. O Corço é um símbolo poderoso do ciclo da vida e nos Pirenéus remete-nos também para lendas e mitos locais.

Lá dentro estava muito quentinho, muito apertadinho, e muito escuro. O meu irmão e as suas patas compridas, eu e as minhas patas compridas, enroscadinhos como as minhocas sob as pedras. (…)E então a mãe separou-nos, a mim e ao meu irmão. (…) Porque os corços só precisam de mãe quando nascem, e são pequenos e têm de aprender. E só têm irmãos quando estão dentro da mesma barriga e bebem o mesmo leite. Mas eu já não bebo leite. (…)muitas madrugadas e muitos anoiteceres depois (…)Levantei a cabeça e estiquei as costas, eriçadas, prontas.(…) E então ouvi-o. O barulho. Pum. O estouro mais terrível que ouvi na minha vida. (…)Eu morreria porque o som me tinha escolhido. Adeus, floresta. Adeus, madrugadas. Adeus, pássaros. Adeus, Sol. Adeus, corço que eu sou. Adeus, corços que são os outros.
Mas não morri e as pernas continuaram a correr, e a correr e a correr e a correr e a correr e a correr e a correr e a correr.


A Lluna
A cadela Lluna não desempenha apenas um papel prático como um animal de estimação na história, mas também simboliza o amor incondicional, a lealdade e companheirismo, a inocência e simplicidade.

Aquilo de que mais gosto é quando assobia. Com os dedos na boca. Porque, então, eu corro. Corro com toda a minha força, e salto, e voo, (…) Quando assobia, corro sobre a erva e a cerca e as rochas. Em direcção ao assobio. (…) E correria e saltaria sobre o carro, se fosse necessário, e sobre a casa, se fosse necessário, e sobre todos os perigos. Passando por cima e por dentro e pelo meio de todos os obstáculos. A toda velocidade, porque se tivesse de salvá-la, salvá-la-ia de tudo o que é mau. (…)E às vezes, quando vou ter com ela ofegante, toca-me suavemente na testa, e no lombo, e diz-me que fiz tudo muito bem, e diz-me coisas bonitas que não entendo, mas que entendo. E nessa forma de me tocar está todo o seu amor, e na minha forma de correr para salvá-la está todo o meu amor.


Há as Mulheres de Água que remetem para a magia dos Pirenéus,
e as que Fazem nascer bebés

As senhoras que sabem fazer nascer bebés são sempre quatro. E têm todas o cabelo branco. Há uma que manda, (…) Há a que se ri, (…) E depois há a (…), que chora sempre. E a (…), que nos conta histórias. Conta-nos umas histórias de que gostamos porque nunca têm a voz nem os olhos dos homens que escrevem as histórias más. As senhoras que sabem fazer nascer bebés vivem na floresta


Há o Urso que faz questão de nos lembrar que Homens repugnantes que matam o que não comem. Homens que querem tudo, que se apoderam de tudo. (…) Só os animais cobardes matam o que não comem.

E finalmente a Terra que reflecte sobre as mudanças geológicas, a formação da cadeia montanhosa dos Pirenéus e o passar do tempo. A montanha viu muitos chegarem e partirem ao longo da sua existência.


Nada durará muito tempo. Coisa nenhuma. Nem a quietude. Nem a calamidade. Nem o mar. Nem os vossos filhinhos tão feios. Nem a terra que segura as vossas patas enfezadas. (…) Terá começado o movimento de novo. O desastre. O princípio seguinte. O enésimo final. E vocês morrerão. Porque não há nada que dure muito. E ninguém se lembra do nome dos vossos filhos.


É um daqueles livros que ficou cheio de sublinhados e notas.

F A V O R I T E I 
O caderno proibido by Alba de Céspedes, Alba de Céspedes, Ana Cláudia Santos

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emotional reflective medium-paced

5.0

Publicado em 1952, Caderno Proibido é um romance que se foca na vida de Valeria Cossati, uma mulher de classe média, com 43 anos, mãe de dois filhos já adultos, Mirella e Riccardo, que frequentam a universidade, e esposa de Michele, um funcionário bancário.
Valeria também trabalha para contribuir para a economia familiar e é automaticamente vista com compaixão pelas amigas burguesas e snobs, que podem dar-se ao luxo de passar as tardes a falar sobre moda enquanto tomam chá.
O que Virginia Woolf reivindicava como uma condição para a liberdade da mulher, ou seja, ter controlo sobre o dinheiro, para Valeria é na verdade quase um estigma social.

O cansaço é um traço que emerge desde o início do romance:

O reconhecimento do meu cansaço exime-os de qualquer responsabilidade. Por isso me repetem frequentemente, com severidade: «Devias descansar», como se não o fizesse por capricho.

Valeria sacrificou os seus próprios interesses para cuidar da família. Achou que estava satisfeita, ou pelo menos convenceu-se disso, usando a desculpa de que após a Segunda Guerra Mundial nada é mais como antes e não é mais possível viver como a sua mãe, uma clássica representante da nobreza decadente, que se mantém afastada do trabalho manual.

A história começa quando Valeria, de forma impulsiva, compra um caderno negro numa tabacaria, sabendo que deveria estar a comprar cigarros para o seu marido:

Dê-me também um caderno», disse eu, revolvendo a bolsa à procura de mais dinheiro. Mas, quando ergui os olhos, vi que o vendedor tinha assumido uma expressão severa para me dizer: «Não se pode, é proibido.» Explicou-me que um polícia se punha de guarda à porta, todos os domingos, para que só se vendesse ali tabaco, e nada mais. Eu tinha ficado sozinha na loja. «Preciso de um», disse-lhe, «preciso mesmo de um.» Falava baixinho, agitada, estava disposta a insistir, a suplicar. Então, ele olhou em volta e, em seguida, pegou rapidamente num caderno e estendeu-mo sobre o balcão, dizendo: «Ponha-o debaixo do casaco.»

Este acto simples dá início a uma série de introspecções e revelações sobre a sua vida, casamento e papel na sociedade. Escrever no caderno é um acto de rebelião silenciosa. É perigoso, porque se alguém o descobrisse tudo mudaria, mas Valeria não consegue parar, precisa dessa liberdade secreta:

(...) quando escrevo neste caderno, sinto que estou a cometer um grave pecado, um sacrilégio: parece-me que estou a conversar com o diabo.

É através da escrita que confronta os seus sentimentos de frustração, revelando um desejo profundo por autonomia e uma vida além das responsabilidades domésticas. Este caderno, que ela deve esconder da família, simboliza a sua busca por identidade e liberdade num contexto social opressivo:

Em casa, não sei porquê, tenho sempre vontade de pedir desculpa.

É uma forma de descobrir o que realmente pensa e sente.
Cada palavra que coloca no caderno é uma revelação, uma janela aberta para a sua verdadeira essência. Escrever torna-se catártico.

Parece-me que uma mulher tem sempre de pertencer a alguém para ser feliz.

Michele, o marido, é um homem tradicional que não reconhece os desejos e necessidades de Valeria, exemplificando as expectativas patriarcais da época. A relação deles é marcada pela falta de comunicação e compreensão:

talvez porque nunca mais falámos como quando namorávamos, só de nós, daquilo que acontecia no nosso íntimo.

Com Michele vendo Valeria apenas como a dona de casa diligente e mãe, incapaz de imaginar que dentro dela há um tumulto de emoções e pensamentos:

(...) mas o que sinto quando estou com Michele é uma felicidade gélida, (…) e os gestos que tenho para com Michele, pelo contrário, são apenas afeto, ou solidariedade, ou hábito, nem sequer aqueles mais íntimos e raros são amor: piedade, antes, compaixão pelas fraquezas humanas.

Os filhos, Mirella e Riccardo, absorvidos nas suas próprias vidas, representam a nova geração que, embora ainda influenciada pelos valores tradicionais, começa a desafiar algumas normas:

Eu nunca compreendi Mirella, enquanto compreendo sempre Riccardo. Por vezes, penso que, se não fosse minha filha, ser-me-ia difícil gostar dela. Não se contenta só com deixar-se viver, com ser amada, como eu fazia na sua idade. Talvez seja pelo facto de os estudos serem muito diferentes, então, para as raparigas. Eu nunca teria pensado em ser advogada: estudava ­Literatura, Música, História da Arte. Faziam-me conhecer só o que é belo e doce, na vida. Mirella estuda Medicina Legal. Sabe tudo.

Alba de Céspedes tem uma escrita afiada, penetrante, introspectiva e carregada de sensibilidade. Os temas tão actuais, como emancipação feminina, o conflito entre o desejo individual e as expectativas sociais, e a luta pela auto descoberta fazem deste livro um clássico.

Caderno Proibido, mais de setenta anos após a sua publicação, continua a provocar inquietação e perturbação.
Quantas Valerias existirão por aí?
Quantas Valerias não conseguirão soltar-se das amarras?

Agora, pergunto a mim mesma onde terei sido mais sincera, se nestas páginas, se nas acções que realizei, aquelas que deixarão de mim uma imagem, como um belo retrato. 
Flores by Afonso Cruz

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reflective medium-paced

4.0

Tenho a certeza de que a vida morre com a rotina e não com a morte, e que o hábito nos petrifica, um dia olhamo-nos ao espelho e estamos transformados em estátuas (…)

A única coisa que interessa saber é que vivemos numa tapeçaria e que, por mais longe que estejamos uns dos outros, somos a mesma história, fazemos parte do mesmo tapete, a morte de uns é o nascimento de outros, a face da nossa vitória é a derrocada de alguém. 
Gritos do Passado by Camilla Läckberg

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2.0

Depois da má estreia com A Princesa do Gelo (só me lembro da mulher morta na banheira) resolvi dar uma nova oportunidade a Camilla Läckberg, mas ainda não foi desta que me conquistou.

Gritos do Passado é superior à Princesa.

Mais uma vez a acção passa-se em Fjällbacka*, e logo nas primeiras páginas uma criança encontra um cadáver, de uma rapariga, num local chamado Fenda do Rei. A polícia além da rapariga morta encontra mais dois esqueletos, e assim começa a investigação.



As personagens são muitas, talvez mais do que na realidade a história precisava, e grande parte delas está ali só para encher chouriços!

Erica, grávida de oito meses, passa toda a história a reclamar do calor, das visitas que recebe em casa, e a parte mais interessante que seria a questão da violência doméstica sofrida por Anna, sua irmã, nem sequer foi explorada - é uma personagem totalmente dispensável.

Os colegas de profissão de Patrick e que o “ajudam” na investigação do caso são personagens estereotipadas, planas, sem estrutura, sem qualquer interesse, e sem qualquer relevância na história.

Os diversos núcleos da família Hult teriam muitos assuntos para serem desenvolvidos, principalmente as questões religiosas, só que não…

Não há personagens carismáticas.

No entanto, a leitura foi agradável. Camilla Läckberg consegue, com as artimanhas do costume, prender-nos à história e fazer-nos sempre querer saber mais e mais.

Gostei de no início de cada capítulo ouvirmos as vítimas de 1979, humanizou-as.

Fiquei curiosa sobre o que acontecerá a Anna.

Uma daquelas leituras boas para quando o cérebro está em standby.

Se vou ler o próximo? 🤔 Hummm, dei 1 ⭐️ ao primeiro, 2 ⭐️ ao segundo, quem sabe se o próximo leva 3 ⭐️ ; talvez, quem sabe!

*Fjällbacka

Fjällbacka é uma vila, a norte de Gotemburgo, onde as antigas actividades piscatórias são já quase só uma lembrança. O mar calmo diante do pequeno e sossegado lugarejo turístico é pontuado por muitas ilhas pedregosas, algumas das quais são agora habitadas apenas durante os meses de Verão.
A Terceira Mentira by Ágota Kristóf

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5.0

Quando iniciamos esta Trilogia da Cidade K. entramos num mundo onde a violência e a crueldade espreitam a cada página.

N'[b:O Caderno Grande|7663741|O Caderno Grande|Ágota Kristóf|https://images.gr-assets.com/books/1264801484s/7663741.jpg|26619540] os gémeos partilham tudo, até mesmo os pensamentos.

N’[b:A Prova|7663768|A Prova|Ágota Kristóf|https://images.gr-assets.com/books/1264801429s/7663768.jpg|2075010] acompanhamos Lucas, é um pouco desconcertante como Claus desaparece totalmente da narrativa, o que de certa forma me fez duvidar da sua existência, e do que é narrado no primeiro livro.
As personagens secundárias assumem especial relevância porque não é tanto a história de Lucas aquela que lemos, mas sim a de Victor, Yasmine, Mathias e Clara. É através deles que temos contacto com a desumanização provocada pelos regimes totalitários.

[b:A Terceira Mentira|7663785|A Terceira Mentira|Ágota Kristóf|https://images.gr-assets.com/books/1264801700s/7663785.jpg|223263] implica a existência de duas mentiras anteriores.

“- Tenho imensa curiosidade em saber o que contêm esses cadernos. É uma espécie de diário?
(…)
- Não, são mentiras.
- Mentiras?
- Sim. Coisas inventadas. Histórias que não são verdade, mas que poderiam ser.”


Será que a história que nos é contada em O Caderno Grande e A Prova é real?
Seriam Lucas e Claus gémeos?
Existiam os dois?
O nome de um é o anagrama do outro, serão a mesma pessoa?
Será tudo invenção de um deles, e se sim de qual?

Tudo isto parece um jogo de espelhos, circular, sem fim, em que nem tudo o que se lê é o que parece, nem tudo o que parece, é o que se lê.
Ágota obriga-nos a perceber que o que lemos não é real, estamos mergulhados na história dentro da história, completamente submersos!

A intensidade da escrita, a experiência da leitura, e a forma como Ágota, no final, une as pontas soltas é genial, é isso que define uma obra de arte.
A Prova by Ágota Kristóf

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5.0

Ansiosa por começar [b:A Terceira Mentira|7663785|A Terceira Mentira|Ágota Kristóf|https://images.gr-assets.com/books/1264801700s/7663785.jpg|223263]
O Cisne Negro by Thomas Mann, Domingos Monteiro

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2.0


Thomas Mann - Prémio Nobel da Literatura, 1929
"principalmente por seu grande romance, Buddenbrooks, que ganhou reconhecimento cada vez maior como uma das obras clássicas da literatura contemporânea"

Este livro estava na prateleira há uns 20 anos, e bem que podia por lá ter ficado esquecido.

É uma edição (1989) muito má da Relógio d’Água, limitou-se a aproveitar uma tradução antiga (talvez ainda feita com outros (des)acordos ortográficos), e nem se deu ao trabalho de fazer a revisão da mesma, assim encontramos palavras como:
“terrìvelmente, amìgavelmente, nitìdamente, fisìcamente, miùdinho, contìnuamente e maçagens.”

Outra coisa que me enervou é a incoerência na tradução de nomes próprios e locais, umas vezes estão no original noutras são traduzidos.

Publicado em 1954, O Cisne Negro, foi o último trabalho de Mann, e a sua fama não é favorecida por esta pequena e insignificante novela com 160 páginas sobre a paixão de uma mulher (pós menopausa) pelo professor do seu filho, um rapaz americano de 24 anos.

Em oposição à filha, uma artista com uma visão racional da vida, Rosália von Tümmler é uma romântica, devota da natureza em todas as suas formas. A sua paixão por Ken não é mais do que um renascimento, um regresso, da sua feminilidade, que ela vê expressa como uma recorrência do que ela acredita ser um período menstrual.
Num mundo em que a visão da mulher era apenas sexual e reprodutivo, Rosália luta contra o sentimento de ter sido descartada, ou melhor, despromovida para uma existência sem valor.

“- Vitória, Ana, vitória! Isto voltou-me, voltou-me depois duma longa interrupção, o mais naturalmente do mundo, e precisamente como acontece a uma mulher madura, cheia de vida! (…) Que milagre opera em mim a grande e boa Natureza,(…)”

No entanto, tanto ela como a sua filha sabem que essa paixão, embora muitas vezes descrita como amor, é explicitamente sexual e não romântica.
Rosália não conhece bem Ken, a maioria das suas conversas e encontros têm lugar na presença de outros. A relação mais importante nesta novela não é a de Rosália e Ken, mas sim a relação entre mãe e filha, e acima de tudo as conversas que têm durante todo o livro.

Há uma crítica à sociedade e aos seus preconceitos, e uma mensagem feminista, pena que não seja mais clara.
A Minha Avó Pede Desculpa by Fredrik Backman

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1.0

DNF - Página 109 - 32%

Se vejo mais uma vez escrito em algum lado "Avozinha" acho que me dá uma coisa má.

Estórias de dentro de casa: novelas by Germano Almeida

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4.0

Germano de Almeida nasceu na Ilha da Boavista, em 1945 e viveu toda a juventude em Cabo Verde. Aos 18 anos veio para Lisboa e licenciou-se em Direito, na Universidade de Lisboa.
Regressou a Cabo Verde e no início da década de 80 publicou as suas primeiras histórias sob o pseudónimo de Romualdo Cruz.

Em 1989 publica o primeiro romance, “[b:O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo|42979673|O Testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo|Germano Almeida|https://images.gr-assets.com/books/1543490400s/42979673.jpg|66815780]” que foi um sucesso e é considerado um clássico da literatura cabo-verdiana.

Em 2018 foi o vencedor do Prémio Camões.

“Não sou escritor, sou um contador de histórias. Histórias da minha gente. Não invento nada, reconto aquilo que nós somos enquanto gente, enquanto povo, enquanto cultura. Por isso, este prémio não foi para mim [bem, o dinheiro pode ser, diz rindo] mas o prémio Camões foi para Cabo-Verde. E deixou a minha gente tão feliz”.
Entrevista dada ao Jornal Online Observador e que pode ser lida aqui.

Estórias de Dentro de Casa são três novelas que abordam a sexualidade e a complexidade das relações homem-mulher. Quase nenhuma questão fica de fora - virgindade, adultério, casamento, machismo, violência, educação, preconceitos, superioridades e ofensas - em relação às mulheres e contra as mulheres - atravessam as histórias, mas com muito humor, ironia e paródia.

In Memoriam – ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
As mulheres de João Nuno – ⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
Agravos de um artista – ⭐️⭐️⭐️



19/198 – Cabo Verde